MULHER QUE ARRANCOU BEBÊ DA BARIGA DE GRÁVIDA EM PONTE NOVA É CONDENADA A 34 ANOS DE PRISÃO
9 de junho de 2017

O Tribunal do Júri, presidido pela Juíza Dayse Mara Silveira Baltazar, julgou e condenou, Gilmária Patrocínio, na última terça-feira (06), pelos crimes de homicídio, ocultação de cadáver, subtração de incapaz e dar parto alheio a si próprio. Gilmaria foi sentenciada a cumprimento de pena total de 34 anos, um mês e 23 dias, em regime fechado, num  julgamento que teve duração de 10 horas e 27 minutos, tendo se iniciado às 9 horas da manhã, com grande presença de público, inclusive de familiares da ré da vítima, vestidos com camisas  que traziam  inscrições clamando por justiça.

Local onde Gilmária arrancou o bebê da barriga de Patrícia. Foro: Reprodução Internet

Ao proferir a sentença,  a Juíza Dayse Mara disse que a condenação de alguém é sempre motivo de tristeza, visto que a mesma é sempre precedida de fatos negativos numa determinada sociedade. Ouvido pela reportagem do Jornal Líder Notícias o Promotor  de Justiça, Henrique Kleinhappel Andrade, corroborou com o posicionamento da juíza: “Concordo plenamente com a Drª. Dayse Mara.

Para o Ministério Público também é muito triste a condenação de quem quer que seja. Numa situação como esta, não há que se falar em quem ganha ou perde. Se tem uma condenação é por que houve um crime e isto é motivo de tristeza  para  todos nós. Por exemplo, estávamos todos alegres porque há mais de cinco meses não havia registro de homicídio em Ponte Nova e neste final de semana, infeliz- mente,  foi registrado  um feminicídio  que certamente vai incidir  em futuro  julga- mento pelo Tribunal de Júri”, disse o Promotor.

Finalmente, falando à imprensa o advogado de defesa, Dr. Bruno Menezes, disse que irá interpor recursos ao TJMG, tem em vista que entende que o conjunto probatório é insuficiente para a pesada conde- nação sofrida pela ré.

O crime

O crime aconteceu, em 26 de junho  de  2015,  e o corpo  de Patrícia foi localizado pelo Corpo de Bombeiros – sem o bebê – em estado  de putrefação, escondido debaixo de uma caixa d’água,  na  extinta  lavanderia do Hospital  Arnaldo  Gavazza, no  bairro  Vale Verde, imóvel hoje  pertencente à Prefeitura de Ponte Nova. O bárbaro crime repercutiu em todo o Brasil e chamou  atenção  das autoridades locais e regionais. Conforme as investigações, Gilmária com a intenção de não perder  o relacionamento com seu companheiro, mentiu que estava grávida. Mensalmente, ela apresentava ao companhei- ro informações da gravidez, com supostas idas ao médico e ainda mostrava imagens falsas de ultrassonografias.

Para tornar o plano perfeito, ela precisava  de uma criança e como conhecia a vítima e sabia que ela iria consultar no Hospital  Nossa Senhora  das  Dores/HNSD, abordou  Patrícia, ainda no Centro Histórico, dizendo que a sua patroa  iria lhe doar um enxoval de bebê. Em segui- da, elas embarcaram num ônibus  coletivo  sentido  ao bairro Vale Verde, onde  foram vistas por  3 testemunhas.

Patrícia estava no oitavo mês de gestação, quando foi assassinada. Foto: Reprodução Internet

“Gilmária tinha  planejado o crime,  pois saiu de casa levando  na bolsa uma tesoura,  lâminas de aço e fita adesiva”, descreve o inquérito.  Quando  a dupla  chegou nas  imediações da extinta  lavanderia,  no bairro Vale Verde, local conhecido da acusada, Gilmária  se armou de um pedaço de pau  e desferiu  um forte golpe na cabeça de Patrícia que desmaiou. A partir  daquele instante Gilmária  iniciou a ex- tração  do bebê  do ventre  de Patrícia,  ainda  viva. Em dado momento, Patrícia começou a retomar  os sentidos,  quando Gilmária  pegou um instrumento perfurante e golpeou o pescoço da vítima.

Após retirar o bebê, Gilmária  escondeu  o corpo  de  Patrícia debaixo  de uma  caixa d’água. Para  não  chamar  a atenção, Gilmária  colocou o bebê numa caixa  de  papelão,  seguiu  até próximo  do Hospital  Arnaldo Gavazza, onde pegou um táxi e foi para  a sua  casa,  no bairro Pacheco. Ao chegar em casa, foi para o banheiro, de onde acio- nou o Corpo de Bombeiros  si- mulando ter dado  à luz a um bebê.

Quatro dias depois de come- ter o crime, em 30 de junho de 2015, ao saber da descoberta do corpo de sua  vítima,  Gilmáriateve uma  crise de hipertensão sendo  levada  ao HNSD, onde chamou a atenção de profissionais de saúde que a atenderam dias antes. Então, naquela data,o caso foi comunicado à Polícia Civil que já investigava o sumiço de Patrícia e tinha  informações de uma mulher  que havia sido levada ao hospital pelo Corpo de Bombeiros,  após  suposto parto caseiro. A pedido da Polícia Civil, Gilmária foi avaliada e para a surpresa, os médicos atestaram que ela não tinha “dado à luz”. Gilmária foi detida, confessou o crime, inclusive o registro do bebê com o nome de  Vitor Patrocínio  da  Silva.

Como medida  protetiva,  atra- vés do delegado Silvério Rocha de Aguiar, a criança foi retirada de Gilmaria e entregue aos cui- dados do Conselho Tutelar, e ao final  das  investigações foi devolvida aos cuidados da avó e do pai. Estes aguardam o cancela- mento  do registro  inicial  para oficializar outro documento dando   nome   à  criança de Bernardo.

Inquérito policial

Em 27 de julho de 2015, o delegado  Silvério  Rocha de  Aguiar  encaminhou à Justiça Criminal, inquérito concluído, com indiciamento de Gilmária Silva Patrocínio por homicídio, ocultação  de cadáver,  sub- tração de incapaz e dar parto alheio  a si próprio.

Gilmária reconstituiu como teria feito o parto. Imagem: Reprodução Internet

Na tarde daquele  dia, no auditório  da Ordem dos Advogados do Brasil, OAB, no Centro Histórico de Ponte Nova, Silvério  Aguiar  e a Delegada Regional de Segurança  Pública,  Iara de Fátima Luiz Gomes, recepcionaram  a imprensa local e de Belo Horizonte,  quando  informaram  sobre  a conclusão do inquérito: “Gilmária agiu sozinha”, declarou o delegado Silvério. Conforme  laudo  da  Medicina  Legal, Patrícia morreu por hemorragia aguda  por causa de ferimento no pescoço.

Com isto,  Herly Marçal, um andarilho, que havia sido detido, temporariamente, desde  a prisão de Gilmária, com suposição  de  envolvi- mento  no crime, ganhou  liberdade.  Durante a coletiva à imprensa, o delegado  Silvério contou os detalhes da investigação, destacando a atuação da sua equipe de investigadores. Houve apresentação de filmagem com a simulação feita com Gilmária (no Complexo Penitenciário), onde ela usando  uma boneca (simulando uma mulher grávida e um modelo de útero com recém-nascido) mostrou  como retirou  a criança,  comprovando que ela agiu sozinha  no crime.

Herly Marçal: o andarilho

Durante os debates  entre acusação e defesa, veio à tona a possível participação de Herly Marçal, no crime contra a jovem Patrícia Xavier, pois era acostumado a dormir no local do crime, onde alguns pertences dele foram encontrados pelos investigadores e que o andarilho tinha antecedentes criminais. Interrogado, à época, pela Polícia, teria inventado que tinha visto dois homens  chegando com um corpo na construção abandonada em um carro vermelho. Em seu depoimento ao delegado Silvério Rocha Aguiar, disse que a dupla chegou no local num sábado, um dia de pois do crime, e que ainda o havia ameaçado.

No entanto, o crime aconteceu na sexta-feira e o delegado ouviu várias testemunhas que disseram que o andarilho estava trabalhando como servente de pedreiro numa obra, no horário que supostamente o crime foi cometido. Mediante a confissão da Gilmária, que assumiu a autoria, sozinha do crime, sendo enfática em inocentar o andarilho, o mesmo foi inocentado, sendo sua participação no crime e a estória por ele contada foram descartadas. “Ele tinha medo de ser preso”, disse o Promotor.

Defesa apostou na tese de insuficiência de provas

Para os advogados de defesa os autos do processo apresentam duas certezas: a primeira confirma a morte da jovem Patrícia Xavier e a segunda, que as provas contra Gilmária são insuficientes para uma condenação. Neste sentido, procuraram sensibilizar o jurado com a demonstração de possíveis contradições e falhas técnicas no laudo pericial.

Sustentaram, ainda, que em função da possível inconsistência do laudo pericial e da pressão da imprensa, o inquérito policial foi concluído, às pressas, para dar satisfação à sociedade, porém, em detrimento de uma apuração criteriosa que pudesse produzir provas consistentes para produção de uma sentença justa ao final do julgamento. A confissão da ré, para a defesa, ocorreu em circunstâncias que chamaram de “esquisitas” e que precisavam ser confrontadas com outras provas robustas, que para eles, inexistem no processo.

Mãe de Gilmária acredita  que a filha não agiu sozinha

Confirmando o que disse à imprensa à época dos fatos, a senhora Terezinha Apolinário Lourenço, de 64 anos, desde o primeiro momento, já desconfiava de que  havia  algo de errado com o nascimento  do suposto neto caçula, pois Gilmária não havia falado com ninguém da família sobre sua gravidez.

Quando  Gilmária  levou o bebê para  que  sua  mãe  o visse, ela questionou a filha e perguntou onde ela havia encontrado a criança. Foi quando Gilmária disse que teve o bebê em casa e que os bombeiros a levaram para o hospital. Dona Terezinha estranhou o fato da filha não ter leite para amamentar o bebê. Embora reconheça  que a filha cometeu o crime, Terezinha não acha que Gilmária agiu sozinha. Ela relata que sua  filha  nunca  conseguiu matar nem uma galinha sozinha  e acredita  que ela não teria  condições  de retirar  o bebê do útero  da mãe  sem ajuda e em seguida carregar o corpo sozinha.“Como mãe juro que ela não agiu sozinha. Por detrás   disso   tem   outra podriqueira”, disse ela à Rádio Montanhesa Ponte Nova, na tarde do dia 06 de junho.

Perguntada sobre os filhos da ré, Dona Terezinha confirmou que todos moram com em sua residência.”Eram  quatro filhos da Gilmária, meus netos, e um foi assassinado, os outros três moram comigo”, disse.

Com informações do Jornal Líder Notícias

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