A Operação Carcinoma foi desencadeada pelo GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), formado pelo Ministério Público e as Polícias Militar e Civil. As investigações se referem a um esquema criminoso instalado na administração da AAPEC (Associação de Assistência às Pessoas com Câncer) com o intuito de enriquecimento ilícito, mediante apropriação de recursos públicos e de numerário arrecadado com doações.
Durante aproximadamente seis meses de investigações, foi identificado que um núcleo criminoso operava o esquema de dentro da administração da AAPEC, sendo que os recursos públicos e privados captados eram desviados em favor dos criminosos. Portanto, as pessoas que deveriam ser as destinatárias de assistência pouco recebiam da associação.
Verificou-se que a AAPEC possui filiais em outras cidades e contava com uma empresa de telemarketing, a serviço dos infratores, sendo de grande monta a totalidade da arrecadação das doações. Tais doações do público, ao invés de realmente terem sido empregadas em favor de portadores de câncer, eram quase que por completo abocanhadas pela organização criminosa, inclusive, com esquema de lavagem de dinheiro, em um verdadeiro estelionato coletivo e crimes contra a economia popular.
Além do enriquecimento e a vida de ostentação, com carros de luxo e motos esportivas, levada pelo casal administrador de fato da AAPEC, eles ainda residiam em um imóvel de propriedade da AAPEC em bairro nobre da cidade de Ipatinga, sendo que a própria Associação dependia de um imóvel alugado para funcionar.
A Associação ainda é responsável por arcar com as despesas com alimentação, construções, viagens, festas, “fitness” e outros luxos e despesas pessoais dos investigados, valendo-se da solidariedade e sensibilidade da população, para levar a cabo o engodo, mantendo em erro os doadores.
Segundo o GAECO, muitos doadores das cidades de Ipatinga, Governador Valadares, Viçosa e Sete lagoas acreditavam que contribuíam para auxílio a uma pessoa carente, acometida de câncer, quando na verdade estavam aumentando a riqueza da organização criminosa.
Muitas doações eram contínuas e obtidas também de pessoas com poucos recursos, que agiam por inocente desejo de ajudar ao próximo. Igualmente, os fatos vinham chocando os funcionários da associação, já que claramente percebiam que pouquíssimas pessoas eram realmente incluídas para assistência pela AAPEC.
Grande parte das arrecadações serviam mesmo era para aumentar a riqueza e luxo dos investigados. A primeira fase da operação foi deflagrada hoje pela manhã, com atuação em 6 cidades do Estado de Minas Gerais (Ipatinga, Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso, Belo Horizonte, Governador Valadares e Viçosa) e contou com o apoio de 76 policiais militares e civis que se reuniram inicialmente no Quartel do 14º Batalhão da Polícia Militar em Ipatinga e outras Unidades das cidades envolvidas. Foram cumpridos 08 mandados de prisão temporária e mais de 20 mandados de busca e apreensão.
A Operação deflagrada nesta terça-feira dá início a uma nova fase investigativa, visando verificar irregularidades em 17 empresas ligadas as investigações. O nome do caso tem a origem de um tumor maligno, com alta taxa de incidência e que, assim como os crimes praticados contra a Associação, precisa ser combatido e extirpado, em benefício das pessoas acometidas pela mencionada doença e da população em geral.
Desvio de dinheiro
Cerca de R$ 1 milhão eram movimentados por mês pelos administradores da Associação de Assistência às Pessoas com Câncer (Aapec). É o que aponta o balanço das ações realizadas nesta primeira fase da operação Carcinoma, deflagrada na manhã desta terça-feira (9), em Ipatinga (MG).
Segundo a apuração do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o casal que gerenciava a instituição morava em uma casa de propriedade da Aapec, localizada em um bairro nobre da cidade de Ipatinga. No imóvel foram apreendidos, oito carros, três motos, notas fiscais e mais de R$ 38 mil.
O Ministério Público investiga também 17 empresas envolvidas no desvio das doações. A Polícia Civil afirma que os desvios de doações de pessoas fiscais e de prefeituras começaram a ser feitos há três anos. Até a noite desta terça-feira, oito pessoas, presas durante a operação, seguiam na delegacia da cidade. Elas responderão pelos crimes de apropriação indébita, formação de quadrilha e peculato.
Funcionamento mantido
Apesar das prisões decorrentes da operação, o promotor Bruno Schiavo afirma que as atividades da Aapec não serão interrompidas e que um novo administrador será nomeado pela Justiça. "O administrador judicial vai definir como continuará os exercícios das atividades da entidade em todos os municípios. Ainda é muito prematuro dizer como isso ocorrerá, mas a intenção é de que todos os doentes continuem a ser tratados pela associação. E, a partir de agora, queremos que as coisas voltem ao seu curso normal, terminando esses desvios ilícitos, para que as pessoas que necessitam possam ser os únicos a usufruírem desse dinheiro arrecadado", disse o promotor.
Fonte: G1 e Polícia Civil