Amedrontados pelas altas taxas de crimes violentos na zona-rural produtores e moradores de Viçosa e região, se reuniram no dia 29 de setembro, para discutirem medidas que possam melhorar a segurança no campo. Uma das propostas é que os produtores rurais tenham porte de arma de fogo e que, eles mesmos façam a segurança de suas propriedades.
Durante o encontro os produtores foram orientados a promover ações conjuntas para assegurar a segurança da propriedade e da família, inclusive, com a implantação de uma rede de monitoramento, a exemplo do que ocorre na área urbana com a rede de Vizinhos Protegidos, onde as pessoas se organizam com o objetivo de coibir as ações dos criminosos, repassando informações de qualquer atitude suspeita, imediatamente para a Polícia Militar, por meio de celulares, no sistema 24h, pelo 190 ou pelo Disque-Denúncia.
Na imagem principal desta reportagem é possível observar um grande arsenal de armas de fogo, que foram apreendidas pela PM. As armas foram apreendidas no dia 4 de abril de 2016 com diversos criminosos, que invadiram um sítio na zona-rural da cidade de Paula Cândido e fizeram quatro idosos reféns. Na época, um grande aparato policial foi montando para prender os criminosos.
Rede de vizinhos protegidos
O foco principal foi o da criação de uma rede bem estruturada, com a setorização e delimitação de áreas que possibilitem ao policial chegar a qualquer propriedade rural – de pequeno, média ou grande porte – no menor tempo, de modo que possa realizar visitas de orientação e atender às denúncias.
Além da mobilização da comunidade rural, o êxito do projeto passa pela incorporação de novas tecnologias, como uso do GPS (Sistema de Posicionamento Global). Por meio do georreferenciamento – definição da forma, limites, características e localização de um imóvel através de métodos de levantamento topográfico – as propriedades são cadastradas e recebem um código.
O procedimento visa evitar duplicidade de nomes das propriedades, ou que o nome de uma seja atribuído à outra com nome similar. Com isso, anula-se a possibilidade de erro e facilita o trabalho de identificação, bem como possibilita o Registro de Eventos de Defesa Social (Reds) para a propriedade correta.
Assim, a guarnição poderá se deslocar para qualquer ponto da área rural, devendo apenas informar o código do local a ser fiscalizado no GPS e o aparelho irá traçar a rota mais curta para se chegar, inclusive, realizando alertas de curvas, velocidade, proximidade e chegada ao local de destino.
O Secretário de Agropecuária e Desenvolvimento Rural, Marcos Roberto Fialho, lembrou que, enquanto a Prefeitura trabalha para a fixação efetiva do produtor rural em sua propriedade, evitando o desemprego e a possibilidade de o produtor arcar com mais uma despesa com o pagamento de aluguel na cidade, para proteger a família da violência que ameaça o campo, as autoridades estaduais parecem fazer vista grossa para o problema. Fialho afiançou que a administração municipal vai continuar fazendo sua parte na busca de soluções práticas e efetivas para a solução do impasse.
O representante dos Produtores Rurais de Teixeiras, Jershon Ayres de Morais, que conduziu os trabalhos, foi bastante enfático em seu pronunciamento e, além das medidas de segurança como o monitoramento das propriedades, chegou a propor medidas mais radicais para que o produtor rural não fique a mercê das ações de malfeitores.
Zona-rural desprotegida
Os coronéis Divino Pereira de Brito e Luiz Carlos Dias Martins, ambos da Reserva da Polícia Militar de Minas Gerais e Consultores da FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais), foram os palestrantes do encontro e falaram sobre um plano de ação para segurança em propriedades e orientaram aos que moram e trabalha no campo a ter atitudes preventivas e protetivas.
Os consultores lembraram que é preciso uma cultura de autoproteção, já que os bandidos agem com a certeza da impunidade e se encorajam na medida em que percebem que não há polícia atuando em determinada região. Lembrou que os produtores podem começar dificultando o acesso dos criminosos as suas propriedades, por meio de cercas, alarmes, câmeras ou cães ferozes.
Brito e Martins disseram que criminalidade no campo agravou-se nos últimos anos e que um dos aspectos que concorreram para essa migração foi que as pessoas da cidade protegeram-se, equiparam suas casas com muros mais elevados, cercas elétricas, câmeras, sensores e alarmes.
Assim, os bandidos expandiram suas áreas de atuação até o campo, onde encontraram um cenário de riquezas e vulnerabilidades, com pouca ação policial, cobertura telefônica e de internet deficientes, propriedades isoladas e desprotegidas. Salientaram ainda que a estrutura de segurança pública no estado não tem sido capaz de oferecer uma resposta satisfatória em relação aos crimes na zona rural, porque Minas tem malha viária extensa, estradas vicinais precárias e fiscalização ineficiente.
Há ainda o problema da receptação dos produtos furtados e roubados, que não têm apuração. Na maioria dos roubos de gado não se sabe o destino das reses. Os consultores ressaltaram que, em caso de ocorrências criminosas na propriedade, é importante fazer o Boletim de Ocorrência (que atualmente é o REDS – Registro de Evento de Defesa Social).
Afinal, ele é o instrumento de que a PM dispõe para trabalhar por meio de dados estatísticos, as prioridades de cada região. Os crimes não registrados podem mascarar situações graves. Sem o devido registro das ocorrências as estatísticas oficiais não retratam a realidade dos acontecimentos.
Quanto a ações mais radicais para resolver o problema, como o uso de armas de fogo, os consultores disseram que não recomendam a ninguém que adote medidas contrárias à lei, lembrando que a legislação sobre o tema é rígida. Quanto a isso, uma solução mais viável é buscar caminhos políticos para a legislação seja alterada.