VÍRUS DESCOBERTO NA UFV É NOMEADO EM HOMENAGEM A VIÇOSA
24 de junho de 2019

Sempre lembrada quando o assunto é excelência acadêmica, vida estudantil, campus universitário de beleza exuberante e – como esquecer? – doce de leite, Viçosa também passou a designar uma descoberta científica. Pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) batizaram com o nome da cidade um gênero de vírus identificado recentemente em seus trabalhos. O nanoscópico homenageado poderá contribuir, mais adiante, para impedir a multiplicação de bactérias que prejudicam a produtividade na indústria de laticínios.

O novo gênero Vicosavirus (escrito assim mesmo, sem cedilha) abrange duas espécies, uma delas também portadora de homenagem local em seu nome: o Pseudomona virus UFV-P2 – que é a espécie-tipo da categoria recém-nomeada, por ser o mais representativo. As duas reverências já se encontram publicadas pelo Comitê Internacional de Taxonomia Viral (ICTV).

“Foi uma maneira de retribuir e agradecer à cidade e à instituição onde pudemos concluir a graduação, o mestrado e desenvolver toda a pesquisa durante o doutorado”, explica a professora Monique Renon Eller, do Departamento de Tecnologia de Alimentos (DTA) da UFV. Ela é uma das responsáveis pela descoberta, juntamente com o doutor em Biologia Celular Roberto Sousa Dias, pesquisador do Departamento de Biologia Geral (DBG) da UFV – onde ambos são graduados em bioquímica. Também participaram os pesquisadores Maura Pinheiro Alves e Antônio Fernandes de Carvalho, ambos do DTA, Pedro Marcus Vidigal, do Núcleo de Análise de Biomoléculas da UFV, e Rafael Locatelli Salgado, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular.

Durante seu doutorado em Microbiologia Agrícola, sob orientação do professor Sérgio Oliveira de Paula, a pesquisadora buscou identificar um bacteriófago – isto é, um vírus que se alimenta de bactérias – capaz de infectar a Pseudomonas fluorescens e impedir que ela se multiplique. Este microrganismo é responsável por severos prejuízos para a indústria de laticínios, uma vez que produz enzimas degradam proteínas e gorduras do leite, causando sabor amargo e consistência gelatinosa. Os métodos mais utilizados no controle de sua incidência, a pasteurização e o UHT, não impedem a liberação dessas enzimas, que se mantêm estáveis mesmo após o tratamento térmico. Com isso, comprometem seu rendimento e qualidade.

Para isolar o UFV-P2, os pesquisadores fizeram testes utilizando material cedido por empresas do setor. À população de Pseudomonas fluorescens, foram adicionados diferentes exemplares de vírus. Quanto mais falhas – denominadas placas de lise – na superfície semelhante a um tapete formada pelo conjunto de bactérias, maior a capacidade bactericida. O, digamos, “campeão desse torneio” teve sua sequência genética detalhada e comparada às de outras espécies, disponíveis em bancos de dados internacionais. Quando nada igual é encontrado, surge a descoberta.

Redução no uso de antibióticos 

pesquisa de novas técnicas para o combate a bactérias desperta cada vez maior interesse na comunidade científica. Segundo alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso indiscriminado de antibióticos em variados contextos, como ambientes hospitalares e práticas agropecuárias, estaria associado à proliferação de microrganismos super-resistentes, resultando numa efetiva ameaça global.

Procedimentos que utilizam vírus visando ao controle biológico de patógenos não são novidade. Pelo menos desde os anos 1980, determinadas espécies de insetos que atacam plantações são combatidas com esse recurso, que minimiza o emprego de agrotóxicos e não traz prejuízos à saúde humana. “Na Europa e nos EUA, a indústria alimentícia já os utiliza faz algum tempo, mas ainda há muito espaço para crescimento de métodos com esse perfil. Especialmente no Brasil, onde nem sequer existe legislação para o emprego de bacteriófagos”, observa Roberto. O pesquisador destaca, ainda, que estudos inovadores no campo da engenharia genética abrem oportunidades para o surgimento de patentes de processos e produtos que envolvam esses vírus.

Marcel Angelo
Divulgação Institucional

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