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DOUTORANDO DA UFV DESCREVE NOVA ESPÉCIE DE BESOURO
1 de agosto de 2019

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O encantamento do biólogo Italo Salvatore de Castro Pecci Maddalena pelos besouros começou ainda criança e ganhou força quando, aos 12 anos, conheceu, no sebo de um tio, o médico e então professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Maury Pinto de Oliveira.

Morto em 2004, aos 90 anos, o professor tinha grande interesse e afinidade pelas ciências naturais. Tanto é que dedicou cerca de 50 anos ao estudo de moluscos, reunindo uma coleção com mais de 40 mil conchas, posteriormente doadas ao Museu de Malacologia da UFJF, do qual foi fundador.

Embora tenha sido um grande especialista em moluscos, foram os besouros que despertaram a curiosidade do professor pela pesquisa. Talvez, por isso, tenha estimulado o interesse do menino, recomendando livros e mostrando a ele a coleção do Museu. Também o presenteou com um livro de sua autoria e uma caixa para guardar conchas.

O menino cresceu, seguiu a vida acadêmica e está terminando o doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFV com uma homenagem ao pesquisador que deu a ele “um significado mais realista ao que era apenas um enorme interesse pelos besouros”. Italo batizou de Xalpirta mauryi a espécie que descreveu durante sua pesquisa no Laboratório de Sistemática e Biologia de Coleoptera, coordenado pelo professor do Departamento de Biologia Animal Cristiano Lopes Andrade, seu orientador.

A nova espécie de besouro é da família Erotylidae e foi descrita em um trabalho publicado, recentemente, na revista Zootaxa (anexo). O artigo teve participação do pesquisador norte-americano Paul Skelley, um dos maiores especialistas do mundo em Erotylidae e que, em 2001, descreveu o gênero Xalpirta. De acordo com Italo, a família Erotylidae é formada por besouros coloridos, que se alimentam de fungos do tipo "cogumelo".

O pesquisador da UFV conta que o Xalpirta mauryi é uma das duas únicas espécies de Xalpirtareportadas para o Brasil. Sua ocorrência é no Parque Nacional do Itatiaia (RJ) e em Campos do Jordão (SP), confirmando a preferência dessa espécie por áreas de grandes altitudes e a capacidade de resistirem a temperaturas baixas. Diferentemente de outros Xalpirta descritos, este tem coloração dorsal uniformemente verde, com um brilho metálico.

Coleção

Os espécimes usados por Italo na descrição do Xalpirta mauryi foram coletados em 1962. Eles pertenciam à coleção de Moacyr Alvarenga, um ex-oficial da aeronáutica que, graças ao seu trabalho, pôde recolher, no interior do Brasil, insetos até então nunca estudados. Sua coleção foi doada à Universidade Federal do Paraná e ao Museu Nacional (Rio de Janeiro), onde, segundo Italo, uma parte expressiva foi destruída pelo incêndio ocorrido em 2018. “Felizmente, eu havia visitado o Museu, alguns meses antes da tragédia, e peguei emprestado muitos exemplares da coleção Alvarenga. Sem querer, contribuí para salvar uma pequena, porém importante parte dessa coleção que, hoje, já não existe.”

Moacyr Alvarenga também foi homenageado por Italo durante o doutorado. No Laboratório de Sistemática e Biologia de Coleoptera da UFV, o pesquisador descreveu outra espécie de Erotylidae e deu a ela o nome daquele que considera “uma figura ilustre da entomologia nacional”. A espécie Mycotretus alvarengai, pertencente ao gênero Mycotretus, está em um dos capítulos da tese que Italo defenderá em agosto. Tese que também inclui a revisão das espécies “tigre” de Mycotretus (que recebem essa alcunha por conta da coloração corporal), um catálogo taxonômico das 177 espécies do gênero Mycotretus e uma análise filogenética da tribo Tritomini, na qual o gênero Mycotretus é incluído.

A origem dos besouros estudados por Italo Pecci-Maddalena enfatiza, segundo ele, “a importância das coleções cientificas como fonte primária para o conhecimento científico”. O pesquisador lembra que, apesar de coletados em 1962, os exemplares de Xalpirta mauryi permaneceram não descritos por quase 60 anos. Como depois disso não houve mais registros, não se sabe se a espécie ainda existe na natureza ou se foi extinta. O certo é que, com a sua descrição, ela passou a fazer parte da história, possibilitando, com isso, compreender os padrões de espécies atuais. Segundo Italo, “ainda hoje, uma porcentagem muito pequena da biodiversidade do planeta é conhecida. Inúmeras espécies novas, vivendo na natureza ou preservadas em coleções científicas, precisam ser descritas e estudadas”.

Outro ponto importante, conforme o pesquisador, é que, no passado, os trabalhos de descrição de novas espécies eram vagos e inconsistentes. Além disso, faltavam lupas de alta resolução para examinar os insetos pequenos, a comunicação entre cientistas só era possível por carta e podia demorar meses. “A descrição que fazemos do Xalpirta mauryi, por outro lado, além de conter fotos em alta resolução, inclui todas as informações disponíveis sobre essa espécie, por exemplo, sobre sua distribuição geográfica, possível relação com outras espécies e em quais museus os insetos estudados estão depositados. Tudo isso facilitará o estudo desta e de outras espécies no presente e no futuro”.

Adriana Passos - Foto: Carolina Fontes

Divulgação Institucional