"Igreja não é palanque nem lugar para discussão de ideologias", disse ao UOL o aposentado José Aparecido Ronchi, 66, um dos líderes do grupo de insatisfeitos.
Para ele, dom Geremias tem apoiado aqueles que defendem "causas comunistas" e a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem ele chama de "prisioneiro de Curitiba".
O padre Alexandre Alves dos Anjos Filho, coordenador da ação evangelizadora da Arquidiocese de Londrina, discorda. Disse que dom Geremias nunca se envolveu em questões político-partidárias. Afirma ainda que é nula a chance de o arcebispo de Londrina ser substituído.
"Isso é um movimento isolado, de fiéis de algumas paróquias do centro da cidade, da região mais abastada. No meio dos pobres, não se fala disso"
Dom Geremias Steinmetz não concedeu entrevista ao UOL. Em nota, a Arquidiocese de Londrina lamentou que "alguns de seus posicionamentos evangélicos sejam confundidos por algumas pessoas com projetos de partidos políticos".
Insatisfação acumulada
O arcebispo assumiu o comando da Arquidiocese de Londrina em agosto do ano passado, em meio à campanha para as eleições presidenciais. Dois meses depois, em outubro, recebeu suas primeiras críticas por transferir alguns padres de paróquias.
Foi em janeiro, porém, que surgiram os primeiros questionamentos políticos ao arcebispo. Naquele mês, Londrina sediou o 14º Encontro Intereclesial das CEBs (Comunidades Eclesiais de Bases), que historicamente estão ligadas a movimentos políticos de esquerda.
O evento reuniu milhares de pessoas num ginásio da cidade por quatro dias. No primeiro deles, foram hasteadas faixas pedindo "Lula Livre".
"Dom Geremias foi conivente. Sabia que isso ia acontecer. Não deveria ter permitido", disse o advogado José Luis Pascual Filho, 58, outro fiel insatisfeito de Londrina.
"Estamos no Paraná, no seio da Lava Jato. Obviamente isso não ir acabar bem"
Padre Alexandre disse que a manifestação política dos presentes no 14º Encontro Intereclesial foi espontânea e não recebeu apoio do arcebispo. Ele, aliás, teria pedido que faixas e bandeiras com temáticas políticas não fossem mais expostas a partir do segundo dia do evento.
Em junho, porém, católicos de Londrina voltaram a se revoltar contra o arcebispo. Isso porque ele enviou uma carta às paróquias de Londrina e região autorizando-as a liberar seus funcionários do trabalho para que eles participassem da greve geral contra a reforma da Previdência, convocada por centrais sindicais para o dia 14 daquele mês.
Na carta, dom Geremias dizia que a proposta de reforma enviada pelo governo ao Congresso Nacional traria prejuízos a trabalhadores e aos mais pobres. Ressaltava, contudo, que "a Igreja não é contra a reforma, mas é contra alguns pontos dela".
Mesmo assim, a correspondência foi vista como um ato de apoio à esquerda. "O arcebispo se posicionou de forma explícita e favorável aos comunistas, ao PT, ao PSOL", complementou Pascual Filho. "Liberou funcionários para um protesto da esquerda."
Manifestação dá início a campanha
No mesmo dia do protesto, cerca de uma dezena de fiéis se reuniu nas escadarias da catedral de Londrina para rezar um terço. Lá, Sirineu Pedrazani, que é diácono, fez um discurso contra a "invasão dos partidos políticos da esquerda" na Igreja.
"Nós temos que nos unir e pedir para tirar o PT do altar", afirmou Pedrazani, aplaudido pelos demais. "Não podemos deixar que nossa Igreja seja invadida por corruptos, por pessoas que estão apoiando partidos socialistas, partidos comunistas. Querem fazer do nosso país uma Venezuela."
Da manifestação, surgiu um grupo para troca de mensagens entre os fiéis. Do grupo, surgiu a ideia do outdoor e dos adesivos.
"Primeiro, instalamos um outdoor. Depois, mais três. Ainda vamos instalar outros três", afirmou Ronchi, destacando o crescimento do movimento. "Até picharam uma placa. Mas isso só serviu para chamar mais atenção."
Segundo ele, os 3.000 fiéis que assinaram o abaixo-assinado contra o bispo são cerca de 1% dos 300.000 católicos de Londrina. Contudo, para o aposentado, os signatários têm grande representatividade na Igreja. "São pessoas de paróquias importantes", disse.
Papa "oprimido" por esquerdistas
Ronchi disse ao UOL nunca ter presenciado um discurso político-partidário em cerimônias da igreja em Londrina. Ele, entretanto, vê a instituição cada vez mais alinhada com ideias da esquerda, não só na sua cidade mas em todo o mundo.
O aposentado avalia que o papa Francisco tem sido "oprimido" por cardeais de esquerda. Essa opressão o fez aceitar coisas que podem levar a Igreja para um mau caminho.
A realização do Sínodo da Amazônia é um exemplo disso, segundo Ronchi. A reunião de bispos realizada no Vaticano, presidida pelo papa, discute assuntos relacionados à Igreja, mas também temáticas ambientais.
"Por que não fazer um Sínodo do Nordeste, onde há tanta necessidade? Por que não fazer um Sínodo da África, onde há gente morrendo de fome?", questionou Ronchi.
Sinal da radicalização
Padre Alexandre dos Anjos disse que o arcebispo Geremias tem seguido a doutrina social da Igreja Católica e recebido o apoio de seus colegas por isso. Cerca de 70 dos 150 padres que fazem parte da Arquidiocese de Londrina assinaram um documento em favor dele após os protestos de fiéis.
Alexandre disse que dom Geremias segue cumprindo suas atividades na Igreja. Tem visitado paróquias e sido bem recebido, principalmente na periferia.
Para o padre, Londrina é foco de polarização e radicalização da política, fenômenos que hoje afetam várias instituições da sociedade. Ele disse que essa radicalização tem se tornado "um veneno" para as relações sociais e espera que isso mude.
"As pessoas não conseguem mais dialogar", afirmou o padre Alexandre. "Quem pensa diferente virou um inimigo."
A Arquidiocese de Londrina disse estar "aberta ao diálogo com pessoas e grupos da sociedade londrinense e região, sem nenhuma exclusividade partidária".
Fonte: UOL.