O medo iniciado no domingo, quando as primeiras informações começaram a surgir nas redes sociais, ganhou um novo capítulo nesta quinta-feira (9): a Polícia Civil e a vigilância sanitária informaram, em pronunciamento durante a noite no Instituto Médico-Legal (IML), que perícia em amostras de cerveja encontrou substância tóxica compatível com os quadros clínicos desenvolvidos por oito pessoas (uma delas morreu na terça-feira), todas ligadas ao Bairro Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte.
O composto orgânico dietilenoglicol, também conhecido como éter de glicol, usado no processo de refrigeração na indústria de cerveja, foi encontrado em dois lotes (L11348 e L21348) do rótulo Belorizontina, da cervejaria Backer.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), informou que, diante do laudo “que comprova a presença de substância tóxica em cerveja consumida por pacientes internados em estado grave, em Belo Horizonte”, convocou a força-tarefa envolvida na investigação “para definição dos encaminhamentos médicos, epidemiológicos e da Vigilância Sanitária”.
Antes de divulgar o laudo, peritos da corporação vistoriaram a sede da empresa de bebidas artesanais, também localizada no Oeste de BH, no Bairro Olhos D'Água. “Nas duas amostras de cerveja encaminhadas lacradas pela vigilância sanitária do município de Belo Horizonte foi identificada a presença da substância dietilenoglicol em exames preliminares”, diz o laudo. Fontes ouvidas pelo Estado de Minas garantem que lotes de Belorizontina produzidos entre outubro e dezembro do ano passado podem estar contaminados.
Apesar de a substância tóxica ter sido encontrada em garrafas do produto, as autoridades ainda não cravam que a contaminação tenha ocorrido na cervejaria. “Não há, em hipótese alguma, afirmação de que a empresa seja responsável pela contaminação”, ressaltou o promotor do Procon Amauri da Matta. Isso porque as garrafas em que o éter de glicol foi rastreado foram recolhidas pelas autoridades fora da indústria. Contudo, uma das medidas já tomadas pelas autoridades, de acordo com fontes ouvidas pela reportagem, é recolher todas as Belorizontinas ainda comercializadas nas três unidades de supermercado onde as cervejas contaminadas teriam sido compradas pelos pacientes. Os estabelecimentos estão localizados nos bairros Cidade Nova e Buritis, ambos na capital mineira, e em Nova Lima, na Grande BH.
Outro ponto que incomodou a Polícia Civil durante a operação foi o fato de um refrigerador usado pela Backer no processo de produção estar localizado em um local em obras. Contudo, não há ligação efetiva do fato com a contaminação por dietilenoglicol. Ainda na vistoria da força-tarefa realizada ontem, conforme fontes ouvidas pela reportagem, a corporação recolheu amostras de outros rótulos da Backer. A perícia pretende, com isso, verificar se outras cervejas da marca estão próprias para consumo.
O avanço na investigação do caso ocorreu horas depois de o Instituto Médico-Legal finalizar a necrópsia do corpo de Paschoal Demartini Filho, de 55 anos, que morreu na noite de terça-feira depois de ter sido internado com os sintomas da “doença misteriosa”. Os trabalhos do IML foram finalizados na madrugada por volta das 3h, com auxílio de um especialista da Universidade de São Paulo (USP). Por parte da Secretaria de Estado de Saúde (SES), o balanço continua o mesmo: nove notificações, com uma descartada (um idoso de 76), e oito casos em apuração por meio do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS Minas), incluindo um óbito.
Pacientes começaram a apresentar os sintomas da doença misteriosa em dezembro. No início, problemas gastrointestinais (náusea e/ou vômito e/ou dor abdominal). Depois, insuficiência renal aguda de evolução rápida (em até 72 horas) somada a alterações neurológicas, como paralisia facial e descendente, borramento visual, amaurose (perda da visão parcial ou totalmente) e alteração sensorial.
A cerveja Belorizontina foi alvo de suspeita de moradores do Buritis desde que as primeiras informações começaram a circular, no fim de semana. Depois da entrevista da Polícia Civil, a fabricante disse que o éter de glicol “não faz parte do processo de produção” do rótulo.
Leia a nota da cervejaria Backer
"Após entrevista coletiva nesta tarde, a Polícia Civil divulgou laudo informando que a substância dietilenoglicol foi identificada em duas amostras recolhidas da cerveja Belorizontina na casa de clientes, que vieram a desenvolver os sintomas. Vale ressaltar que essa substância não faz parte do processo de produção da cerveja Belorizontina, fabricada pela Cervejaria Backer.
Por precaução, os lotes em questão - L1 1348 e L2 1348 - citados pela Polícia Civil, e recolhidos na residência dos consumidores citados, serão retirados imediatamente de circulação, caso ainda haja algum remanescente no mercado. A Cervejaria Backer continua à disposição das autoridades para contribuir com a investigação e tem total interesse que as causas sejam apuradas, até a conclusão dos laudos e investigação."
Fonte: Estado de Minas.