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Poucos testes e isolamento podem explicar baixo número de casos confirmados de coronavírus em MG, dizem especialistas
12 de maio de 2020

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Minas Gerais bateu, nesta segunda-feira (11), cem mil casos suspeitos de Covid-19. São 3,3 mil casos confirmados. No Brasil, o estado é o terceiro com menor incidência da doença, segundo Ministério da Saúde. A cada cem mil habitantes, 15,5 tiveram diagnóstico confirmado. Situação semelhante pode ser vista em Belo Horizonte, que tem 37,18 confirmações por cem mil habitantes. É a quarta capital com menor incidência no país. Em contrapartida, Minas é um dos piores no quesito de testagens.

Afinal, há motivos para comemorar ou os números mascaram a real situação do estado? O G1 ouviu especialistas sobre o assunto.

Capitais com menor incidência de Covid-19

Capital Incidência
Campo Grande (MS) 17,3
Curitiba (PR) 28,6
Cuiabá (MT) 28,6
Belo Horizonte (MG) 37,18
Goiânia (GO) 38,12

Baixa testagem

Teste rápido para Covid-19 — Foto: Governo de SergipeTeste rápido para Covid-19 — Foto: Governo de Sergipe

Teste rápido para Covid-19 — Foto: Governo de Sergipe

Um dos fatores que explicam a baixa incidência de casos confirmados no estado é o fato de que poucos testes são realizados. Segundo pesquisa feita por estudiosos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Minas fez apenas 478 testes por 1 milhão de habitantes desde o início da epidemia, um dos piores do país neste quesito.

“No Brasil, essa taxa é cerca de três vezes maior e, nos países da Europa, que já começam a flexibilizar as medidas de isolamento, a situação é a seguinte: 23.000 testes/milhão de habitantes na Itália, 32.891 testes/milhão na Alemanha e 41.332 testes/milhão na Espanha, para citar alguns exemplos”, informou a pesquisa.

Patrícia Siqueroli pode ter sido um dos casos de subnotificação em Minas — Foto: Arquivo pessoalPatrícia Siqueroli pode ter sido um dos casos de subnotificação em Minas — Foto: Arquivo pessoal

Patrícia Siqueroli pode ter sido um dos casos de subnotificação em Minas — Foto: Arquivo pessoal

Sem fazer testes, é difícil confirmar o diagnóstico. Foi o que aconteceu com a professora Patrícia Siqueroli, de 44 anos, que ficou de cama por três semanas entre fevereiro e início de março com sintomas de febre, tosse, dor de garganta, nariz entupido, dificuldade para respirar e falta de paladar e olfato.

“Cheguei a achar que eu fosse morrer. E liguei para minha mãe para dar orientações: se acontecer alguma coisa comigo, faz isso, faz aquilo”, contou.

Patrícia acredita que ela entra nas estatísticas de subnotificação de Covid-19 em Minas. Apesar dos sintomas comuns, ela foi tratada como um caso de pneumonia, que é também classificada como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

O diagnóstico só foi dado pelo médico pouco depois da recuperação dela, no início de março, quando começou-se a falar mais sobre a presença do vírus em território nacional. “Mas não fiz teste. Não tem exames pra todo mundo”, contou.

Subnotificação

Para o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Leonardo Ribeiro, a baixa testagem pode ser, sim, indício de subnotificações. “O número de casos suspeitos em Minas é em torno de 100 mil. E o estado tem 3 mil confirmados. Existe uma diferença absurda. Quando testa massivamente, você sabe quem são as pessoas infectadas e consegue fazer isolamento mais efetivo”, falou.

Leonardo fez uma pesquisa sobre subnotificações com base no número de hospitalizações de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) nos últimos sete anos e constatou uma anormalidade nos dados deste ano, o que o levou a crer que teria relação com a Covid-19. O último balanço da Secretaria de Estado de Saúde mostrava que houve um aumento de 560% no número de casos comparando-se este ano com o ano passado.

Segundo Leonardo, no Brasil, o número de casos é possivelmente sete vezes maior do que consta nos informes do Ministério da Saúde. O especialista está finalizando uma pesquisa com os números de Minas, mas já adiantou que podem ser ainda piores.

Leitos e cemitérios

 Hospital de Campanha foi montado no Expominas, em BH, para receber pacientes com Covid-19, no caso de esgotamento dos leitos que já estão em funcionamento. Até agora, não foi necessário utilizar a estrutura — Foto: Pedro Gontijo/ Imprensa MG Hospital de Campanha foi montado no Expominas, em BH, para receber pacientes com Covid-19, no caso de esgotamento dos leitos que já estão em funcionamento. Até agora, não foi necessário utilizar a estrutura — Foto: Pedro Gontijo/ Imprensa MG

Hospital de Campanha foi montado no Expominas, em BH, para receber pacientes com Covid-19, no caso de esgotamento dos leitos que já estão em funcionamento. Até agora, não foi necessário utilizar a estrutura — Foto: Pedro Gontijo/ Imprensa MG

O médico Carlos Starling, que é membro da Sociedade Mineira de Infectologia e do Comitê de Enfrentamento à Covid-19, reconhece que a subnotificação pode comprometer o entendimento da real situação da doença no estado. “Só testamos a minoria. Até fim de abril, era uma raridade ter teste”, falou.

Mas, para ele, este não deve ser o único fator em análise para entender a situação da pandemia no estado e na capital mineira. A taxa de ocupação de leitos e de cemitérios também pode dar indícios da evolução da contaminação.

Os últimos dados disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde no dia 7 de maio mostravam a ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em 75% e de leitos clínicos em 65% em BH. Em Minas, 63% dos leitos de terapia intensiva estão ocupados. Para leitos de enfermaria, a taxa chega a 66%. As informações do estado se referem ao último domingo (10).

No caso dos cemitérios, a ocupação também não chegou ao esgotamento, lembra Starling. O prefeito Alexandre Kalil chegou a anunciar a abertura de 1.900 novas covas. Mas, de acordo com a Fundação Municipal de Parques, que administra os cinco cemitérios da cidade, em março deste ano houve aumento de quase quatro sepultamentos por dia, em relação ao mesmo mês do ano passado. Mas, em abril, a média diária apresentou queda.

Isolamento mais cedo

“A epidemia está estável, mas a situação não é confortável em hipótese alguma”, afirmou o infectologista ao avaliar a situação no estado.

Para ele, as medidas de isolamento social e o uso de máscaras adotados em Minas antes de outros estados, como São Paulo, podem ter contribuído para colocar o estado e BH numa situação mais tranquila.

“Em relação a outras cidades estamos muito melhor. Só olhar o que está acontecendo no Rio, São Paulo, Manaus. Perderam o momento adequado de fazer intervenção. Nós aqui em BH fizemos com base em dados. Em meados de janeiro e fevereiro já estávamos nos preparando do ponto de vista estatístico. Quando aconteceram os primeiros casos, que detectamos comunitários, propusemos ao prefeito fechar atividades que não são essenciais”, contou.

Só para se ter uma ideia, a incidência no estado de São Paulo é de 99 por cem mil habitantes; no Acre, é de 164; Amazonas, de 304; Amapá, de 309; Ceará, 182,8.

Entre as capitais, São Paulo tem 204 casos por cem mil habitantes; Manaus tem incidência de 270 casos; Macapá, de 309, e Fortaleza, de 387 por cem mil habitantes.

Fonte: G1.