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Pesquisa da UFV desenvolve nova técnica biotecnológica para combater praga da soja
26 de maio de 2020

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Os inseticidas que matam pragas prejudiciais aos grandes plantios agrícolas nem sempre são soluções viáveis. Em geral, os venenos matam também outros organismos que seriam benéficos às plantas e ainda contaminam o solo, a água e o alimento. Por isso, a ciência tem buscado soluções ambientalmente sustentáveis, usando controle biotecnológico de plantas. De maneira muito simplificada, esse tipo de controle pode ser feito introduzindo ferramentas mais específicas para aqueles organismos nocivos aos plantios. Para o bem da economia e do ambiente, nos últimos anos, as técnicas têm se sofisticado a tal ponto que é possível manipular geneticamente moléculas que vão direto no alvo, ou seja, destroem a praga sem riscos ambientais ou à saúde humana. Uma pesquisa sobre este tema, realizada na UFV, tem alcançado enorme repercussão em uma das revistas científicas mais importantes do mundo na área de ciências agrárias, em especial para a entomologia, a ciência que estuda os insetos.

O artigo Liposome encapsulation and EDTA formulation of dsRNA targeting essential genes increase oral RNAi-caused mortality in the Neotropical stink bug, Euschistus heros, está entre os 10% mais acessados da revista Pest Management Science nos dois últimos anos. O trabalho, de autoria da recém-doutora, Nathaly Lara Castellanos, é o fruto da colaboração entre os pesquisadores Eugênio Oliveira, do Departamento de Entomologia e Guy Smagghe e Olivier Christiaens, da Universidade de Ghent, na Bélgica. Esta colaboração resultou também no doutorado com dupla titulação da autora e, segundo o professor Eugênio, abre as portas para futuras parcerias entre as duas instituições.

Os pesquisadores trabalharam com o percevejo marrom (Euschistus heros), uma praga que causa prejuízos de mais de U$700 milhões anuais às culturas de soja e milho no Brasil.  Há uma década, os entomologistas já dominam a técnica de usar partes do RNA (material genético do próprio inseto) para combater lagartas que causam danos às culturas agrícolas. Este material genético é ingerido pela praga e, no interior do seu organismo, modifica algum processo de interesse para combatê-la. É como se fosse um inseticida natural, feito do próprio inseto e lançado para atingir um alvo certo, sem afetar os outros animais da mesma cadeia alimentar.

O desafio e o grande mérito da pesquisa realizada pelos pesquisadores da UFV, segundo o professor Eugênio, foi adaptar essa técnica para combater percevejos. Ao contrário das lagartas que mastigam as folhas, o que torna o combate mais controlável, os percevejos se alimentam da seiva das plantas. O problema é que, antes de comer, eles lançam uma espécie de coquetel enzimático que pré-digere o material vegetal para facilitar a sucção. Este coquetel não permitia que o material genético (os fragmentos de RNA) chegasse intacto ao alvo desejado para combater a praga. “Este é um dos poucos trabalhos envolvendo percevejos e, sem dúvida, é o primeiro a focar especificamente nesta praga que afeta os plantios de soja”, disse o orientador.

A pesquisa é inovadora, do ponto de vista tecnológico, porque a pesquisadora conseguiu fazer com que essa molécula de RNA fosse envolvida numa espécie de estabilizante (quelantes do tipo EDTA, muito utilizado na fabricação de pães e derivados na indústria alimentícia), protegendo o material genético do suco gástrico do percevejo. “A técnica que nós desenvolvemos faz com que o inseto possa ingerir o material genético que vai silenciar o gene de interesse para que ele morra, se reproduza menos ou tenha menos resistência aos stresses encontrados no campo, reduzindo assim seu potencial como praga”, explica o professor Eugênio.

Para Nathaly Castellanos, o trabalho demonstra que o uso de formulações simples como EDTA, melhoram a eficiência do material genético de interferência (RNAi). “Criamos novas possibilidades para o desenvolvimento de estratégias de controle de pragas de maneira específica, sem afetar organismos não alvos e com menor possibilidade de causar impactos negativos sobre o ambiente”, afirmou a pesquisadora.

Léa Medeiros

Divulgação Institucional UFV