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Pesquisa conclui que metas de regeneração da Mata Atlântica dificilmente serão atingidas
29 de maio de 2020

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Um estudo conduzido pela doutoranda Nathália Vieira Hissa Safar, do Programa de Pós-Graduação em Botânica da UFV, e pelos professores Carlos Ernesto Gonçalves Reynaud Schaefer (Departamento de Solos/UFV) e Luiz Fernando Silva Magnago (Centro de Formação em Ciências Agroflorestais da Universidade Federal do Sul da Bahia) mostra que as metas atuais de regeneração da paisagem da Mata Atlântica dificilmente serão atingidas.

A constatação está no artigo Resilience of lowland Atlantic forests in a highly fragmented landscape: insights on the temporal scale of landscape restoration, recentemente publicado na revista Forest Ecology and ManagementNo artigo, os pesquisadores abordam a capacidade de regeneração natural, ou resiliência, de remanescentes de florestas de tabuleiro, num contexto de paisagem altamente fragmentada, como a do bioma Mata Atlântica. Eles também discutem as implicações dos resultados no cumprimento de metas globais e nacionais para restauração florestal, conservação da biodiversidade e mitigação de mudanças climáticas.

O artigo é resultado de uma pesquisa que teve como objetivo avaliar os efeitos da idade da floresta no número total de espécies arbóreas e de espécies com alto valor de conservação (endêmicas e ameaçadas), na composição de espécies arbóreas e no estoque de carbono. Mais especificamente, os pesquisadores queriam saber se esses parâmetros estão se recuperando naturalmente ao longo do tempo e quantos anos levariam para atingir valores encontrados em florestas maduras próximas. “Como nem todos os ecossistemas são capazes de se regenerar pelos seus próprios meios, compreender a capacidade e o tempo necessário para as florestas se recuperarem de um distúrbio contribui para estabelecer previsões seguras sobre o que aconteceria com elas em diferentes cenários de impactos ambientais. Além disso, auxilia na criação de iniciativas e investimentos eficazes para a conservação da biodiversidade e carbono”, explica Nathália Safar.

Segundo a doutoranda, impactos ambientais desencadeiam o processo de regeneração natural que envolve mudanças na diversidade e estrutura da comunidade vegetal. Para avaliar se essas florestas estão recuperando esses parâmetros ao longo da sucessão, os pesquisadores amostraram florestas maduras, utilizadas como ecossistema de referência. Eles também avaliaram florestas em regeneração, localizadas no norte do Espírito Santo e sul da Bahia. Todas dentro e no entorno de duas Unidades de Conservação: a Reserva Biológica do Córrego Grande (RBCG) e a Floresta Nacional do Rio Preto (FNRP). Em cada floresta, os pesquisadores mediram e identificaram todas as espécies arbóreas dentro de um critério preestabelecido. Para cada espécie amostrada, foram obtidos seus status de endemismo da Mata Atlântica e de ameaçada, de acordo com a lista vermelha da International Union for Conservation of Nature (IUCN), e determinada sua capacidade de armazenamento de carbono.

O estudo observou uma rápida recuperação da riqueza de espécies arbóreas nessas florestas (cerca de 80 anos para se recuperar completamente), o que indica que a regeneração passiva (natural) pode ser uma ferramenta viável para recuperar o número de espécies. Por um lado, os resultados sugerem que, na hipótese de se cessar o desmatamento e permitir que os ecossistemas se regenerem naturalmente, as metas nacionais para a restauração da biodiversidade podem ser alcançadas. Por outro lado, as espécies com alto valor de conservação, como as endêmicas e as ameaçadas, não estão se recuperando ao longo da sucessão.

Também é alarmante, conforme a pesquisa, a lenta recuperação dos estoques de carbono e da composição de espécies arbóreas, que levariam de centenas a milhares de anos para recuperar valores similares aos das florestas maduras próximas, de acordo com as previsões feitas pelo estudo. Na prática, isto significa, segundo os pesquisadores, que essas florestas podem nunca se recuperar completamente. As previsões indicam que metas estabelecidas pelos acordos de conservação vigentes (ex. Metas Nacionais de Biodiversidade 2013-2020; Bonn Challenge 2016-2030; ENREDD+ nacional 2015-2030 e Pacto de Restauração da Mata Atlântica 2009-2050), que têm como objetivo restaurar áreas desmatadas, são demasiadamente otimistas.

Os dados encontrados permitem concluir que, em termos práticos, será um desafio alcançar as metas nacionais de conservação da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e restauração da paisagem por meio da restauração passiva, sendo necessário algum tipo de intervenção nessas áreas. Os pesquisadores destacam, portanto, a importância do comprometimento do governo em investir esforços em planos de conservação e mitigação por um período muito mais longo do que o tem sido determinado pelas metas ambientais vigentes, bem como criar estratégias de regeneração assistidas em áreas de média a baixa resiliência e altos valores de conservação e mitigação.

O artigo completo pode ser consultado em: https://bit.ly/3euoNXH

 

Divulgação Institucional – campus Viçosa

Fonte: UFV