COVID-19: UFMG convocará 40 mil voluntários para testar vacina mineira
19 de abril de 2021

Os cientistas do Centro de Tecnologia em Vacinas (CTVacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) devem realizar ensaio clínico da candidata à vacina do tipo quimera protéica em 40 mil voluntários. Os pesquisadores esperam que os testes em humanos comecem ainda em 2021 para que a vacina totalmente nacional esteja pronta em 2022.

O estudo da vacina quimera protéica do CTVacinas é um das três pesquisas mais promissoras para o desenvolvimento de um imunizante com tecnologia preferencialmente nacional. As três candidatas mais adiantadas e autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são a Versamune, desenvolvida pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP); a ButanVac, produzida pelo Instituto Butantan, e a vacina do tipo quimera proteica da UFMG.

Para a realização das fases 1 e 2 do estudo clínico pela UFMG, é necessário investir R$ 30 milhões. Em uma reunião remota na Assembleia Legislativa, em 14 de abril, o presidente da Casa, o deputado Agostinho Patrus (PV), garantiu que a universidade receberá o recurso. O parlamentar informou que o dinheiro pode vir de emenda parlamentar destinando parte do acordo da Vale com o Governo de Minas de reparação aos danos do rompimento da barragem da empresa em Brumadinho.

Na semana passada, os pesquisadores do CTVacinas iniciaram os pré-testes, com a imunização em macacos. Até o momento, a candidata à vacina tem apresentado bons resultados em animais, o que deixa os cientistas esperançosos para realizar, em breve, o ensaio clínico. A UFMG desenvolve sete pesquisas de candidatas às vacinas contra a COVID-19. A mais avançada é a quimera proteica, uma vacina recombinante.

“Quimera é uma palavra que a gente usa, porque a proteína que estamos produzindo é, na verdade, uma proteína artificial, uma mistura de diferentes proteínas do vírus que causa a COVID-19. A classificação mais geral é que ela é uma vacina de subunidade constituída de proteína de vírus recombinante”, explica o professor do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas, Flávio Fonseca, um dos pesquisadores do CT Vacinas.

As etapas da vacina da UFMG

O pesquisador explica que os ensaios clínicos são divididos em três fases: fase 1 tem o objetivo de demonstrar a segurança; fase dois, a imunogenicidade e fase 3 visa a eficácia da vacina. A fase 1 e 2 são realizadas concomitantemente e a fase 3. A fase 1 e 2 levam três meses e envolvem 500 voluntários. A fase 3, que só pode ser conduzida depois da fase 1 e 2, leva seis meses e envolve número maior: entre 30 mil e 40 mil voluntários.

Os testes em macacos estão no início e respeitam os protocolos de segurança e cuidados para os animais, que foram liberados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “Estamos realizando esses testes em macacos, porque foi um pedido da Anvisa para que a gente pudesse encaminhar esse dossiê dos estudos feitos até agora para que possa autorizar os ensaios em seres humanos”, afirma Flávio.

Uma das pesquisadoras do CTVacinas, a professora Santuza Teixeira diz que estudos estão feitos no tempo necessário para garantir segurança e eficácia
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 12/01/21)

Ele ressalta que a imunização funcionou muito bem nos testes em camundongos e hamster. “Nas duas espécies, os animais ficaram protegidos sem apresentar efeitos colaterais. Esperamos que também aconteça nos experimentos com macacos”, avalia. A professora Santuza Teixeira, uma das pesquisadoras do CTVacinas ressalta que tudo está sendo feito dentro do tempo necessário para garantir a segurança e eficácia do imunizante.

Pedido de garantia por mais recursos
Na reunião na Assembleia Legislativa, a reitora da UFMG, Sandra Goulart, pediu ajuda dos deputados de Minas para garantir recursos para a realização dos ensaios clínicos de modo que a vacina fique pronta em 2022. “As pessoas acham que são valores altos (R$ 30 milhões), mas se compararmos com o preço da tecnologia que temos importado, inclusive vacinas que estão escassas e que a gente não consegue ter acesso a elas, é estrondosa a diferença do preço da tecnologia nacional”, diz. Ela reafirma que comparativamente é muito mais em conta investir na vacina nacional do que importar vacinas e insumos.

A reitora defende como fundamental investir em tecnologia nacional no contexto da escassez de vacinas no mercado internacional e a necessidade de vacinar toda a população, anualmente, contra a COVID-19 em decorrência das variantes do novo coronavírus. “Por isso é tão importante a gente investir numa vacina que seja 100% de tecnologia brasileira.”

Parcerias em outras vacinas

A UFMG, em parceria com outras instituições de pesquisa, participou da realização da fase 3 dos ensaios clínicos de outras vacinas, a Coronavac (Sinovac Biotech) e Janssen Pharmacêutica (Johnson & Johnson). “Temos muita experiência na realização da fase 3. Isso ajuda muito no desenvolvimento que estamos fazendo”, ponderou a reitora.

Ainda estão em estudo pela UFMG candidatas a vacina bivalente (Influenza+COVID-19) e (BCG COVID-19), RNA Mensageiro, MVA SARS-CoV2 e Ad5 SARS-CoV. Ainda há outras quatro pesquisas de imunizantes realizadas por universidades mineiras: Universidade Federal de Viçosa em parceria com a Fiocruz (partículas do vírus; levedura de cerveja; e febre amarela) e Universidade Federal de Juiz de Fora (gotas com bactérias probióticas).

Fonte: Estado de Minas

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