Pesquisadores brasileiros identificaram a presença do coronavírus na retina de pessoas que tiveram Covid-19, segundo um estudo publicado na quinta-feira (29). Anteriormente, o grupo já havia observado que cerca de 20% das pessoas que foram contaminadas pela doença apresentavam anomalias oftalmológicas.
O estudo, publicado na revista científica americana JAMA Ophthalmology, foi realizado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"Essa pesquisa mostrou, depois de muitos meses, que o vírus pode estar na retina - e que talvez ele se esconda no sistema nervoso central e em outros órgãos, sendo uma espécie de reservatório, podendo estar relacionado aos casos de Covid crônica", explica Rubens Belfort Junior, um dos coordenadores da pesquisa e presidente da Academia Nacional de Medicina, em entrevista ao Globo News.
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores analisaram a retina de pacientes que faleceram em decorrência da gravidade da Covid-19, e que tiveram os órgãos doados pelas famílias.
Ao todo, foram analisados os olhos de três pacientes, sendo dois homens e uma mulher. Os pacientes tinham entre 69 e 78 anos. O processo de enucleação ocular - remoção dos olhos - foi realizado em um período de até 02 horas após a morte dos pacientes e utilizou a tecnologia de transplante de córnea.
Uma pesquisa anterior feita pelos pesquisadores revelou que cerca de 20% dos pacientes contaminados com Covid, seja casos leves ou graves, apresentaram anomalias vasculares.
"Não é dependente exclusivamente da gravidade, pode ser a própria maneira do vírus causar reações no organismo", afirma Belford.
Segundo o especialista, a maioria das lesões acaba se resolvendo sem deixar problemas graves, mas existe uma pequena parcela dos infectados que pode ter sequelas para a vida toda.
"A gente calcula que apenas 2% a 3% tem lesão grave e que algumas pessoas, dentro desse percentual, podem perder a visão de um dos olhos, pelo menos. Mas, tudo ainda é muito novo e as pesquisas ainda estão evoluindo", explica Belford.