Os estudantes da Universidade Federal de Viçosa (UFV) se mobilizaram, mais uma vez, na tarde da última quarta-feira (24), em protesto contra o aumento de preços do Restaurante Universitário (R.U) da instituição. Segundo informações recebidas pelo Primeiro a Saber, o almoço/janta nos RUs da UFV eram R$ 1,90 e, com o aumento, pode chegar a R$ 9. A concentração da manifestação aconteceu na Praça Silviano Brandão e, após isso, os manifestantes se deslocaram até as 4 Pilastras da UFV.
Em contato com a nossa reportagem, Lucas Zini, diretor de Comunicação Institucional do Diretório Central dos Estudantes (DCE), afirmou que os estudantes foram convocados para irem às ruas ontem na intenção de manifestar contra o aumento do R.U, por entender que isso impacta diretamente na permanência de milhares de estudantes que estão vinculados à Universidade e não tem condições de arcar com suas despesas.
"O Restaurante Universitário não é para dar lucro, essa não é a intenção. Ele é uma política pública de permanência, para que outras pessoas, que não tem condições de se bancar na cidade, possam ter alimentação de qualidade. Possam estudar e não precisem abandonar a Universidade. Aumenta o R.U agora, nesse contexto de Brasil, onde 19 milhões de pessoas passam fome e outras 49 milhões estão em insegurança alimentar severa, é contribuir para que esse número aumente ainda mais. O R.U é necessário para que pessoas de baixa renda não deixem a Universidade", afirmou Lucas Zini.
Além disso, um outro entendimento do DCE é que esse aumento vai acarretar em outras problemáticas econômicas na cidade. Nesse sentido, com a evasão escolar das pessoas que não tem condições de se manter em Viçosa, a cidade terá mais apartamentos vazios, causando um problema no setor imobiliário. Além disso, haverá menos estudantes no município consumindo localmente, então a economia, que já é fragilizada, fica ainda mais.
Ainda de acordo com o diretor de Comunicação Institucional, o Restaurante Universitário também regula o preço dos restaurantes da cidade. Os que servem marmitex tem um preço mais baixo, pois não conseguem competir. Então caso o R.U suba, esses restaurantes tem prerrogativa para subir seus preços. Isso, portanto, impacta na inflação da cidade, que já é uma das maiores do estado.
"Aumentar o Restaurante Universitário impacta na vida dos estudantes, dos viçosenses e de todas as pessoas que estão na cidade, na região e porquê não no Brasil inteiro. Isso porque, a UFV é a primeira Universidade do Brasil que está debatendo nesse momento o aumento do R.U. À depender do que acontecer aqui, serve de prerrogativa para que aconteça em outros lugares", pontuou o diretor de Comunicação Institucional do Diretório Central.
No campus Viçosa, são três restaurantes universitários (RU I, RU II e MU). O RU I oferece todas as refeições – café da manhã, almoço e jantar – aos finais de semana. Durante os dias de semana, o café da manhã é servido, com horário estendido, das 6h30 às 8h, apenas no Multiuso (MU), que não oferece mais almoço. O RU I fica localizado na Avenida PH Rolfs, entre a Biblioteca (BBT) e o Espaço de Convivência, na região central do campus universitário; o RU II fica próximo ao Departamento de Zootecnia, na Avenida PH Rolfs; o MU está entre o Centro de Vivência e o Prédio Arthur Bernardes, também na região central do campus universitário.
A agenda de manifestações dos estudantes na cidade segue para os próximos dias. De acordo com informações recebidas pelo Primeiro a Saber, uma nova mobilização ocorrerá nesta quinta-feira (25). A partir das 17h, ocorrerá o festival universitário pela assistência estudantil nas 4 Pilastras.
O intuito dessa nova manifestação é o mesmo dos outros e fazem parte de uma mobilização permanente contra o aumento do R.U.
No último dia 17, a UFV um matéria em seu site informando que “corte de verbas no orçamento da UFV ameaça manutenção de atividades essenciais”
De acordo com a matéria, os cortes crescentes dos últimos anos no orçamento da Universidade e a redução do repasse de recursos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) obrigaram a UFV a repensar uma nova política de preços para os restaurantes universitários (RUs). Desde março, uma comissão formada por representantes da administração, servidores técnico-administrativos da área de alimentação e de entidades estudantis dos três campi vem estudando caminhos para a construção desta nova política visando especialmente aos estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, ou seja, com renda per capita de até 1,5 salário mínimo.
Segundo a UFV, se a instituição mantenha a atual política de preços dos RUs seriam necessários, para 2022, investimentos em torno de R$ 20 milhões. Isso significaria R$ 4.882.013,00 a mais do que os R$ 15.117.987,00 previstos pelo Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para o Pnaes, ainda sujeito a cortes e vetos. E aqui vale destacar que, além de subsidiar as refeições, os recursos do Pnaes também são utilizados para pagamentos de auxílios para estudantes em vulnerabilidade socioeconômica, manutenção das moradias estudantis, dentre outras ações direcionadas à assistência estudantil. Como disse, no final do Fórum, a professora Sylvia do Carmo Castro Franceschini, pró-reitora de Assuntos Comunitários, “temos que tomar atitudes que nem sempre agradam. Mas vivemos sob um guarda-chuva que é o orçamento e sem ele não se faz nada”.
Para que a comunidade acadêmica entendesse os cálculos que envolvem a receita e as despesas da UFV, o pró-reitor de Planejamento e Orçamento, Evandro Rodrigues de Faria, apresentou números e abordou as perspectivas para a instituição em 2022, quando um cenário ainda maior de despesas se vislumbra. Em função dos novos protocolos de biossegurança de combate à pandemia, por exemplo, serão necessários mais investimentos em profissionais e materiais de limpeza. Aliado a isso, o retorno das atividades presenciais em janeiro impactará no consumo maior de energia elétrica e na volta de profissionais terceirizados que foram temporariamente dispensados. E isso num cenário de inflação e em que a indexação de muitos contratos mantidos pela UFV se dá pelo IGPM que acumula alta de mais de 20%.
Com a convicção de quem lida com as contas do dia a dia, Evandro afirmou que o orçamento previsto para o próximo ano não será suficiente para manter as despesas necessárias para o funcionamento da Universidade. Por isso, segundo ele, ficará difícil para a instituição alocar recursos adicionais para a assistência estudantil, como vinha fazendo nos últimos anos. Somente em 2020, a UFV investiu cerca de R$ 8 milhões, além dos R$ 14.608.290,00 repassados pelo Pnaes. O corte em todas as ações orçamentárias da UFV e a baixa previsão de arrecadação não permitirão à Universidade assumir os desafios que estão colocados para a assistência estudantil. Dentre eles, o possível reajuste no valor das refeições face ao aumento de preços dos gêneros alimentícios. O professor Evandro também lembrou que, além de o orçamento da assistência estudantil não ter aumento real desde 2019, ele ainda sofreu um corte de R$ 3 milhões, de 2020 para 2021.