Nas última semanas, circula pelo WhatsApp uma mensagem segundo a qual a farmacêutica Pfizer teria patenteado o antiparasitário ivermectina para o tratamento da Covid-19. Ainda segundo o texto, esse medicamento teria recebido o nome de “Pfizermectine”, uma junção do nome da empresa e da substância. No entanto, essa informação é falsa.
De fato, a Pfizer desenvolveu um medicamento chamado Paxlovid que teria reduzido significativamente o risco de hospitalizações e mortes por Covid-19 em adultos vulneráveis. No entanto, não há qualquer relação entre o novo fármaco e a ivermectina. O Paxlovid atua como antiviral, enquanto a ivermectina tem efeito antiparasitário. Essa informação foi confirmada pela Pfizer em nota enviada à Lupa.
As informações da mensagem foram extraídas de um texto em inglês do site “ZeroHedge”, publicado em 28 de setembro, cujo link circula junto à peça de desinformação. O texto afirma que um dos mecanismos de ação do medicamento anti-Covid desenvolvido pela Pfizer seria similar ao da ivermectina, pontuando que a droga teria sido ironicamente apelidada por terceiros de “Pfizermectin”. Já a mensagem que circula em grupos brasileiros de WhatsApp vai além, e diz que a farmacêutica teria patenteado um “clone” da própria ivermectina para combater a Covid-19.
Na verdade, são duas substâncias completamente diferentes. O Paxlovid, que é um antiviral, funciona como inibidor da protease, uma enzima presente no Sars-CoV-2 necessária para que o vírus se replique, impedindo sua disseminação no organismo. A orientação é administrar o medicamento ao primeiro sinal de infecção ou ao se expor à Covid-19, juntamente com uma dose do ritonavir, um antirretroviral utilizado no tratamento do HIV.
Por outro lado, a ivermectina é uma substância que atua contra várias espécies de parasitas e vermes como a lombriga, a sarna e o piolho. Conforme descrição da bula, seu efeito se dá por meio da paralisação da musculatura dos invasores, ocasionando sua morte e posterior eliminação do corpo. Diversas pesquisas testaram os efeitos antivirais da ivermectina em um eventual tratamento contra a Covid-19, e sua ineficácia foi comprovada,
“São realmente duas coisas diferentes. O medicamento da Pfizer é uma molécula que tem uma ação específica contra uma proteína do vírus do Sars-CoV-2. Não tem nada a ver com a ivermectina, que tem ação contra parasitas”, explica a professora do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ana Paula Herrmann.
Ela reforça que a ivermectina interage por meio de canais específicos dos parasitas, e que sua ação como antiviral ainda é pouco conhecida. “Enquanto, em geral, os antivirais são muito específicos para os vírus que são indicados”, completa.
Por meio de nota, a Pfizer reforçou que os medicamentos em desenvolvimento pela farmacêutica não apresentam qualquer semelhança com a ivermectina. “São compostos com estruturas químicas e mecanismos de ação diferentes”, afirmou.
Neste mês, a farmacêutica pediu à Food and Drug Administration (FDA), órgão regulatório dos Estados Unidos, a liberação para uso emergencial do fármaco no país. De acordo com a empresa, o potencial de redução de hospitalização ou de morte entre adultos com risco de desenvolverem a forma grave da Covid-19 chega a 89%.
O conteúdo analisado é semelhante a uma checagem da Lupa publicada em maio sobre a informação falsa de que a Pfizer teria registrado um medicamento que agia de forma semelhante à hidroxicloroquina contra o novo coronavírus. Na ocasião, a mensagem também fazia referência ao Paxlovid — à época chamado pelo código PF-07321332.
Com informações da Agência Lupa / Folha de São Paulo.