Em todo o Brasil e em vários países, as estatísticas são claras: a pandemia afeta especialmente os não vacinados. Dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) indicam que as pessoas que optaram por não tomar nenhuma dose têm 22 vezes mais chances de serem hospitalizados em enfermaria após contrair o coronavírus em relação aos imunizados.
No Estado, as pessoas que não receberam sequer uma dose correspondem a 71,24% dos internados em UTI Covid e 79,07% dos leitos clínicos reservados para a doença, conforme média atualizada no dia 24 de janeiro pela SES-MG. Atualmente, são 3.308 pessoas internadas por causa da doença em hospitais do SUS em Minas Gerais.
Embora não haja uma estatística nacional divulgada pelo Ministério da Saúde, outros Estados já divulgaram estatísticas que seguem na mesma direção da realidade observada em hospitais de Minas. Um estudo divulgado na semana passada pela Secretaria de Saúde de Santa Catarina revela que a taxa de óbitos por Covid-19 em idosos não vacinados ou com imunização incompleta foi 47 vezes maior do que naqueles que já receberam a dose de reforço.
Diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e pediatra, Mônica Levi explica que a ciência ainda não conseguiu produzir uma vacina contra a Covid que evite a infecção e a transmissão do vírus, mas que é inegável o fato de que os imunizantes estão sendo eficientes para evitar sintomas graves da doença.
“Todas as estatísticas, no Brasil e no mundo, indicam que a grande maioria das internações e dos óbitos é de não vacinados ou de pessoas parcialmente imunizadas. Existem casos de pessoas que tomaram as duas doses, mas há muito tempo. Quem se vacinou há oito meses e não tomou a dose de reforço não está completamente vacinado”, argumenta.
A médica explica ainda que alguns indivíduos podem ter sintomas graves, mesmo com a vacinação completa, por terem questões relativas ao sistema imunológico – caso de imunossuprimidos e parte dos idosos. E há ainda as crianças menores de 5 anos, que ainda não podem ser imunizadas. Para a proteção desses mais vulneráveis, o ideal é que a cobertura vacinal seja maior na sociedade, criando mais barreiras para a transmissão do vírus.
Mônica Levi afirma que a ômicron foi encarada inicialmente pela comunidade científica como uma variante menos agressiva do que as cepas anteriores. Mas logo se observou que ela provoca sintomas leves entre os vacinados, enquanto continua sendo uma doença potencialmente grave entre não imunizados, tanto que houve um crescimento na internação de crianças por causa da doença – o que reforça a importância de se imunizar esse público.
“Transformar uma doença gravíssima em um quadro leve é uma maravilha. Mesmo que as vacinas ainda não estejam em um estágio ideal, evitando infecção e transmissão, elas continuam mantendo essa proteção muito alta para quem recebeu todas as doses”, diz a especialista.
Os dados mostram que a variante ômicron impactou substancialmente o sistema de saúde no Brasil. Somente em Belo Horizonte, ontem havia 279 pessoas internadas em UTI e 808 em leitos clínicos por causa da Covid. Somente na semana passada, mais de 34 mil pessoas foram atendidas na cidade com suspeita da doença. Desde o início do ano, 141 pessoas perderam a vida após contrair o coronavírus desde o início de 2022 na capital.
No Our World in Data, site que congrega dados científicos de todo o mundo, uma publicação do mês passado compara as curvas epidemiológicas de cinco países conforme casos, hospitalizações, mortes e vacinação. Pelos gráficos é possível observar que, nos Estados Unidos, onde a dose de reforço atinge 27% da população, houve um crescimento significativo no número de óbitos e internações, enquanto na Alemanha, em que 58% receberam a terceira aplicação, a onda da ômicron não interferiu na curva de hospitalizações.
Fonte: O TEMPO