Em meio à uma inflação galopante, o brasileiro terá mais um produto essencial reajustado em breve. Em abril, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), vinculada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), vai anunciar qual será o aumento dos medicamentos. Se o reajuste ainda não é oficial, o mercado financeiro e integrantes do setor consultados pela reportagem projetam um crescimento de 10%, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do ano passado.
Do outro lado do balcão, estão famílias com a de vigilante Rodrigo Gonzaga Osório. A filha dele, Deilly Diniz Gonzaga, moradora do Bairro Jardim Leblon, em Venda Nova, BH, tem uma doença grave no sistema digestivo, que obriga a família a gastar cerca de R$ 3 mil por mês.
“Ela está internada agora porque está com uma infecção complicada. A orientação dos médicos é para terminar o tratamento com os medicamentos atuais. Depois, vão trocar os remédios. Conto com ajuda de outras pessoas”, conta Rodrigo, que vive em Santa Luzia, na Grande BH.
A família precisou abrir uma vaquinha on-line (clique aqui para ajudar) para auxiliar nos gastos com Deilly. A doença da jovem de 21 anos também força a família a comprar alimentos manipulados, para dar a ela uma dieta adaptada ao problema digestivo.
“Ela passa mais tempo no hospital do que em casa. Nessa crise, fica difícil manter. Eu conto com pessoas próximas, amigos. Mas, muita gente não tem condição de ajudar mais”, conta Rodrigo.
O reajuste dos medicamentos a ser anunciado pela Anvisa vem na esteira de um faturamento bastante alto do setor em 2021. Levantamento do Farmácias App concluiu que a arrecadação do segmento aumentou 53% em relação ao ano passado.
Para Rony Anderson, vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado de Minas Gerais (Sincofarma-MG), uma conta não bate com a outra.
“São duas coisas distintas. Se teve faturamento ou não teve, não quer dizer nada com relação ao custo de produção. O segmento pode ter crescido em algumas regiões, mas não em todas. O custo do medicamento vem em cima de importação e dessa inflação que a gente está vivendo, que é mundial. Não atualizar o preço de um produto é muito perigoso”, diz Rony Anderson.
Conforme o levantamento do Farmácias App, os medicamentos mais vendidos no Brasil no ano passado foram os antidepressivos. Eles representam 4,4% do faturamento anual do setor. Cristina Fonseca, que mora no Bairro Mantiqueira, também em Venda Nova, é uma das pessoas que precisa adquirir esse tipo de produto com frequência. O gasto dela mensal fica em torno dos R$ 300.
“Com o aumento, vai dar zebra. Recebo o BPC (Benefício de Prestação Continuada) por invalidez, ou seja, um salário mínimo que preciso tirar o aluguel, água e luz e remédios. Às vezes, fico sem comprar os medicamentos por falta de recurso”, afirma a mulher.
A situação de Cristina se complicou ainda mais quando o proprietário da casa onde ela vive pediu o imóvel de volta.
No caso dela, são cinco medicamentos a serem comprados todos os meses. O mais caro deles custa R$ 91,60: a morfina de 10 miligramas.
Caso o reajuste de 10% se confirme e incida integralmente no fármaco, o custo aumentará para R$ 100,76. Já a despesa mensal, calculada em R$ 283,36, se elevaria para R$ 311,70.
Faturamento por região
Minas Gerais representou 11,3% do faturamento das farmácias em 2021, informa a pesquisa do Farmácias App, ficando atrás apenas de São Paulo, que teve uma fatia de 24,7% da arrecadação.
Por região, o Sudeste foi responsável por 48,6% do índice de compras. Logo após, o Nordeste com 19,6%, seguido do Sul com 16,3%, Centro-Oeste com 9,4% e, por último, a região Norte com 6,0%.
Em comparação com 2020, o Sul apresentou um crescimento de 61,1%. Em seguida, a região Norte com 56,6%, Sudeste com 55,6%, Nordeste com 53,1% e, com apenas 31,4%, o Centro-Oeste ocupa o último lugar.
Além dos antidepressivos, figuram entre os medicamentos com maior contribuição para os faturamentos das farmácias os analgésicos não-narcóticos e antipiréticos (3,6%), os reguladores de colesterol (3,3%), os antiulcerosos (2,9%) e os antirreumáticos sem esteroides (2,7%).
Por O Tempo