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Mercado espera alívio na conta de luz após nível de reservatórios dobrar
2 de abril de 2022

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A caixa-d'água do setor elétrico brasileiro inicia o período seco de 2022 com o maior volume de água desde 2012 e especialistas já projetam o fim da taxa extra na conta de luz em maio, com a adoção da bandeira verde na conta de luz após oito meses de cobrança da bandeira de escassez hídrica.

Segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o nível médio dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste chegou a 63,3% em março, último mês do chamado período chuvoso. As duas regiões concentram cerca de 70% da capacidade de armazenamento de energia das hidrelétricas brasileiras.

O volume registrado em março é quase o dobro do registrado no mesmo mês de 2021, ano em que o país sofreu risco de racionamento de energia. "O período chuvoso foi muito bom para o setor elétrico", diz o ex-presidente do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Luiz Eduardo Barata. "O Brasil não vive mais risco de racionamento de energia."

A recuperação é fruto das fortes chuvas de verão, que causaram estragos e mortes na Bahia, em Minas Gerais e na região serrana do Rio de Janeiro. Reflete também estratégia adotada pelo governo para enfrentar a crise hídrica, com o acionamento de térmicas mais caras que pressionaram a conta de luz nos últimos meses.

Com a melhora no nível dos reservatórios, o preço da energia no mercado atacadista está hoje em R$ 55,70 por MWh (megawatt-hora), o menor valor possível no sistema atual. No auge da crise, passou três meses no teto estabelecido para 2021, de R$ 583,88 por MWh.

"Como a incidência de chuvas foi bastante superior à temporada anterior, as projeções indicam cenários mais favoráveis para atendimento eletroenergético", diz o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), que ainda finaliza balanço sobre o período úmido.

O operador diz que, diante do cenário, o país já reduziu o uso de térmicas a apenas um terço do que foi necessário em setembro. "E a tendência é reduzir ainda mais", afirmou, em nota enviada à reportagem.

Nesta sexta-feira (1), por exemplo, apenas 6,7% do volume de energia gerada no país veio desta fonte, mais cara e poluente. No auge da crise, a dependência de térmicas chegou a superar os 20%.

"Começamos o período seco em uma situação bem melhor que ano passado, o que nos deve dar mais tranquilidade na segurança de suprimento e permitir o retorno da bandeira verde", diz Luiz Barroso, presidente da consultoria PSR Energy, que ajudou a bolar o plano de racionamento de 2001.

Os consumidores de baixa renda, que não foram afetados pela criação da bandeira de escassez hídrica, estão há quatro meses sem taxa extra na conta de luz. O restante dos consumidores ainda pagará mais um mês os R$ 14,20 por 100 kWh (quilowatts-hora) cobrados excepcionalmente desde setembro.

Apesar da expectativa de alívio com a taxa extra, a conta de luz seguirá pressionada pelo elevado uso de térmicas em 2021, que justificou a concessão de um empréstimo de R$ 5,3 bilhões ao setor, e pela decisão de contratar usinas emergenciais para tentar encher os reservatórios nos próximos anos.

Essas usinas foram contratadas em leilão realizado em outubro para entregar 775 MW (megawatts) médios entre 2022 e 2025 ao custo total de R$ 39 bilhões. O processo foi criticado na época por especialistas e pela indústria por garantir aos projetos altos níveis de geração de energia mesmo em períodos de reservatórios cheios.

O governo justificou a encomenda dizendo que precisava reforçar os reservatórios para evitar riscos de racionamento nos próximos anos, mas agora com as hidrelétricas já em boas condições, os projetos se mostram desnecessários, segundo especialistas do setor.

"Está na hora de fazer uma conta e ver se vale descontratar isso", diz Barata.

Os projetos devem iniciar a geração de energia em maio e há problemas relacionados à localização de algumas usinas, que podem esgotar a capacidade regional de escoamento de energia e forçar o desligamento de usinas mais baratas.

O diretor da consultoria especializada Volt Robotics, Donato da Silva Filho, diz que uma das lições da crise de 2021 é a necessidade de manter algumas térmicas mais baratas gerando de forma permanente para evitar a necessidade de acionar usinas mais caras em momentos de seca.

No segundo semestre de 2021, o governo autorizou a contratação de energia de térmicas que estavam paradas por falta de contrato, algumas delas com custo em torno de R$ 2,5 mil por MWh, o que ajudou a aumentar o rombo financeiro do setor.

O ONS diz que a contratação das térmicas com entrega de energia para maio "se tratou de medida emergencial, tomada no início de setembro, quando se tinha uma perspectiva bastante crítica para o atendimento à demanda no final de 2021 e início de 2022 e a indicação de déficit estrutural de potência a partir de 2023".

O MME (Ministério de Minas e Energia) e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) não haviam respondido a pedidos de entrevista até a publicação deste texto. (Folhapress)

Fonte: O TEMPO