Enquanto a Petrobras acumula um lucro astronômico de R$ 44,5 bilhões somente no primeiro trimestre deste ano, caminhoneiros autônomos e empresários de todo o país sofrem e estão deixando de trabalhar por não terem recursos para arcar com o óleo diesel.
No início desta semana, a estatal anunciou um reajuste de 8,9% sobre o preço do combustível, que é insumo principal para o transporte rodoviário, elevando o valor do litro nas bombas em torno de R$ 7 em praticamente todas as regiões do Brasil.
Olívio Souza trabalha como caminhoneiro há 12 anos em Governador Valadares, na região do Rio Doce. “De um frete de R$ 10 mil, mais de 75% vão para o combustível. Se você colocar nessa conta o que gastamos com manutenção da carreta, praticamente o que sobra é cerca de 10% do frete. Hoje, a gente ganha menos que antes das greves de 2018”, conta ele, que transporta principalmente materiais de siderurgia com destino ao Nordeste, sobretudo a Bahia.
“A situação do caminhoneiro é desesperadora. Para ir longe, tem que negociar um valor melhor do frete ou então vai ter uma dificuldade muito grande para voltar”, disse o presidente do Sindicato Interestadual dos Caminhoneiros, José Natan Emilio, referindo-se a rotas saindo de Minas com direção ao Nordeste e ao Centro-Oeste do Brasil.
“Agora, praticamente, o caminhoneiro não tem como rodar mais, porque o diesel consome tudo. Se não tiver um contratante que entende isso, ele não roda e vai mudar de ramo”, afirmou.
José Natan afirma ainda que precisou, inclusive, paralisar o caminhão com que trabalhava. O veículo, segundo ele, precisa de manutenção, mas não há recursos suficientes para arcar com os custos de oficina.
“Por incrível que pareça, o frete barateou. O que eu fazia por R$ 700, hoje tem gente fazendo por R$ 450, R$ 500”, compara. O sindicalista orienta a categoria a comunicar os credores sobre a situação financeira precária a fim de evitar novas cobranças.
Tanqueiros
“A categoria, mais uma vez, foi surpreendida com esse aumento da Petrobras. Os acionistas só estão olhando para eles”, diz o presidente do Sindicato das Empresas Transportadoras de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Estado (Sindtanque), Irani Gomes.
“Também estamos prejudicados pela questão do governo estadual por conta do ICMS. O combustível aumenta, e o governo estadual não faz nada pela sociedade”, diz Gomes.
O presidente do Sindtanque defende que o governo de Minas poderia fazer mais para reduzir o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS).
Atualmente, a alíquota está em 15%, a partir do congelamento anunciado pelo governador Romeu Zema (Novo) no ano passado, mas Gomes defende 12%.
Enquanto falta sensibilidade para a Petrobras, já é nítido o esvaziamento das rodovias, visto que muitos profissionais optam por não rodar justamente para evitar os prejuízos. E, de acordo com analistas de mercado, a tendência é de novas altas até o fim deste ano
Fonte: O Tempo