Uma tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFV no ano passado foi contemplada com o Prêmio Capes de Tese Edição 2024 na área de Zootecnia e Recursos Pesqueiros. Em seu trabalho, a pesquisadora Renata de Fátima Bretanha Rocha, orientada pela professora Simone Facioni Guimarães, gerou resultados que irão ajudar os produtores a melhorar a qualidade genética do rebanho de gado leiteiro da raça Gir, associando biotecnologias reprodutivas e genômicas.
Concedido anualmente, o Prêmio Capes de Tese reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos no Brasil nas 49 áreas de avaliação que fazem parte do Sistema Nacional de Pós-Graduação. A premiação considera a originalidade, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social, metodologia utilizada, qualidade da redação, organização do texto e qualidade e quantidade de publicações decorrentes da tese. A solenidade de entrega do Prêmio será em dezembro, em Brasília.
A pesquisa
A Gir é a raça zebuína de maior produtividade leiteira nos trópicos. É valorizada por se adaptar bem à produção em pastagens e a sistemas de criação menos tecnológicos. No Brasil, é muito utilizada nas principais bacias leiteiras, como os estados de Minas Gerais, Goiás e São Paulo. Tradicionalmente, é uma grande fornecedora de genética leiteira ou base para a fundação de outras raças, como a Girolando. A raça é muito conhecida pela docilidade na ordenha, pela adaptação a regiões quentes e pela boa conversão alimentar, ou seja, alta capacidade produtiva, mesmo com baixa quantidade de alimentos ofertados.
Nas fazendas, os animais são constantemente melhorados geneticamente para aumento da produtividade e adaptação a diversos ambientes. Os embriões de vacas muito produtivas são valorizados para geração de novas fêmeas para o rebanho. Por isso, são gerados pelas metodologias de ovulação múltipla e transferência de embriões para vacas receptoras para a continuidade da prenhez. Tal tecnologia faz com que as fêmeas mais produtivas produzam dezenas de crias anualmente. No entanto, por falta de estudos, o potencial genético das matrizes para produção de maior número de oócitos (óvulos ou gametas femininos) coletados e dos embriões gerados ainda não é considerado nos programas de melhoramento genético bovino. “Os criadores têm interesse em ampliar o conhecimento sobre o potencial genético do rebanho, mas ainda faltavam informações e bancos de dados que permitissem um trabalho mais efetivo no entendimento da genética Gir visando à maior geração de embriões em fêmeas com boa produtividade leiteira”, disse Renata ao justificar a importância do seu trabalho.
Foram quatro anos buscando dados em fazendas de diversas regiões do país, tais como a variabilidade genética para as características desejadas, número total de oócitos aspirados em relação ao número de oócitos viáveis e total de embriões produzidos in vitro, incluindo estes dados em programas de melhoramento genético de bovinos, em especial, da raça Gir. A pesquisa também contou com o apoio da Associação Brasileira de Criadores de Gado Gir Leiteiro, da Embrapa Gado de Leite e da Universidade de Wageningen, na Holanda.
A pesquisadora também identificou que o acasalamento entre indivíduos aparentados dentro de uma população, resultando em animais chamados de endogâmicos, pode causar redução do desempenho reprodutivo dos animais - um evento conhecido como depressão endogâmica -, o que impacta negativamente a produção de oócitos e embriões. “Nossas pesquisas também encontraram regiões genômicas e genes específicos no DNA da espécie bovina que influenciam no número de oócitos e embriões produzidos. Um dos achados inéditos desta pesquisa foi o fato de que existe efeito genético dos touros sobre a produção total de oócitos nas filhas”, revelou Renata.
Informações: UFV