Lavínia permanece intubada e sem resposta motora no CTI do Hospital Arnaldo Gavazza Filho, em Ponte Nova.
Marcelo de Oliveira, pai de Lavínia Freitas de Oliveira e Souza, a menina de 10 anos baleada na cabeça no último domingo (15), concedeu uma entrevista à TV Educar de Ponte Nova. Ele detalhou os momentos angustiantes do ataque, o atual estado de saúde da filha – que segue em estado gravíssimo – e fez um importante alerta sobre golpistas que se aproveitam da tragédia.
Lavínia, que foi baleada pelo policial penal Márcio da Silveira Coelho, de 34 anos, permanece intubada e sem resposta motora nesta quarta-feira (18), no CTI do Hospital Arnaldo Gavazza Filho, em Ponte Nova. O projétil perfurou a cabeça da menina, "entrando pelo lado temporal direito e saindo pelo lado esquerdo occipital". Uma campanha de doação de sangue em nome de Lavínia continua mobilizando a população no Hemominas de Ponte Nova.
Marcelo de Oliveira descreveu o horror vivido na tarde de domingo: "Por volta de umas 3 e pouco da tarde, eu voltando da cidade de Diogo de Vasconcelos, passando por Vinte Alqueires, que é um distrito de Porto Firme, eu passei por um veículo. Após passar por esse veículo, eu peguei estrada de terra e percebi que ele começou a me seguir".
Preocupado com a segurança dele e da filha, Marcelo acelerou para tentar despistar o carro. "Eu ia até o trevo de Porto Firme. Ao chegar no trevo, eu pensei: se eu acessar aqui rapidamente, posso causar um acidente. Segurei e falei: vamos ver se esse cara está com má intenção ou se quer só passar. E nisso, ao invés de ele só passar, ele me fechou. Aí eu percebi que realmente ele estava com má intenção."
Em desespero, Marcelo desviou do veículo e pegou sentido Porto Firme, acelerando ao máximo. "Nesse momento, ele desceu do carro e efetuou uns disparos. Fazendo isso, quando eu vi o disparo, eu me abaixei e inclinei minha filha para que a gente tentasse se esquivar." Atingida, Lavínia começou a sangrar.
"Perdi um pouco o controle do carro naquele momento de desespero, o carro foi para o acostamento, acessando um mato ali, quase saindo da estrada", relatou. "Consegui voltar o meu carro para a estrada, segurando a minha filha com uma mão só, já sangrando, pedindo a Deus para me dar força para eu conseguir chegar até o hospital mais próximo."
Marcelo descreveu o alívio e a força que ganhou ao perceber que a filha ainda respirava, motivando-o a acelerar. "Andei 30 e poucos quilômetros carregando minha filha nesse braço, dirigindo com essa mão, consegui chegar com vida no hospital", disse. Ele clamou por ajuda e foi prontamente atendido. "Fui atendido na hora, o pessoal fez o primeiro socorro da minha filha, em seguida chegou a Polícia Militar para dar o apoio também, a perícia... E ela foi socorrida e trazida para Ponte Nova, onde se encontra internada."
O agressor, Márcio da Silveira Coelho, 34 anos, policial penal que residia em Viçosa e trabalhava no presídio de Ponte Nova, foi preso em flagrante pela Polícia Civil. Câmeras de segurança flagraram o GM/Onix cinza de Márcio perseguindo o carro da família. As imagens mostram o policial com o braço para fora do carro, ostentando uma arma de fogo, seguido pelos quatro estampidos de tiros.
Márcio alegou ter agido após uma suposta briga de trânsito. A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) instaurou um procedimento investigativo. A arma e o carro do suspeito foram apreendidos.
Inicialmente encaminhado para o Presídio de Viçosa, Márcio foi transferido nesta terça-feira (17) para a Casa de Custódia de Matosinhos, uma unidade prisional exclusiva para policiais penais e agentes socioeducativos.
Marcelo expressou profunda gratidão à equipe do Hospital Arnaldo Gavazza em Ponte Nova. "A recepção aqui no hospital foi a melhor possível, fomos muito bem atendidos, estamos sendo muito bem atendidos. Queria agradecer a equipe do hospital aqui de Ponte Nova pelo atendimento, pela dedicação com a minha filha, todos os enfermeiros, todas as pessoas que trabalham aqui na recepção, toda a área do hospital, os médicos, foi feito um trabalho excelente, o médico fez o melhor que ele pôde na cirurgia, dentro do que ele tinha de recurso aqui."
No entanto, o pai ressalta a urgência: "Ela continua em estado grave, e respirando por aparelhos. A gente pede ajuda dos governantes para que possam nos auxiliar e nos ajudar a transferir ela o mais rápido possível para um hospital que tenha ainda mais recursos do que aqui, para que ela possa ter mais chance de sobrevivência através de uma aeronave, que possa ser levada com mais conforto e segurança".
Marcelo destacou a importância das doações de sangue, que foram cruciais para a filha. "Minha filha chegou aqui, recebeu doação do banco de sangue daqui, e se não tivesse sangue no banco de sangue, pessoas que vieram aqui doar antes, talvez ela não estaria viva até hoje. Então, para as pessoas se conscientizarem e continuarem doando sangue, que pode ajudar muita gente". As doações para Lavínia devem ser feitas no Hemominas de Ponte Nova, na Rua Carlos Gomes, 17, bairro Esplanada.
Em meio à dor, Marcelo fez um veemente alerta sobre golpistas: "A gente tem pessoas aí utilizando de má fé, falando que é vaquinha para arrecadar dinheiro para a Lavínia. Até o momento eu não pedi nenhuma ajuda financeira, nenhuma rede social e nenhum meio de comunicação, ajuda financeira, até o momento eu não pedi." Ele garantiu que, se precisar, fará um pedido oficial, mas que "no momento não estou fazendo vaquinha virtual, ninguém está autorizado para fazer vaquinha virtual em nome da Lavínia, e se alguém pedir, não confie porque não é autorizado por nós e não está vindo para nós esse dinheiro."
O pai de Lavínia finalizou com um apelo aos governantes por melhor qualificação e avaliação psicológica de profissionais que portam armas: "Espero que o governo do estado, que é responsável pelas pessoas que trabalham, para qualificar essas pessoas melhores, para que elas possam ter uma preparação melhor, para não sair fazendo o que esse cara fez, essa atrocidade, a troco de nada... O que aconteceu comigo, eu não quero que aconteça com mais ninguém, e que o governo aja nesse sentido de preparar essas pessoas melhores e testar essas pessoas se elas realmente estão aptas a andar com a arma."