A UFV inaugurou, nesta quarta-feira (3), a sede do Centro de Conservação dos Saguis-da-Serra (CCSS), referência em investigações e ações de conservação do sagui-da-serra (Callithrix flaviceps) e do sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) – duas espécies de primatas da Região Sudeste que correm o risco de serem extintas. O espaço trouxe ainda mais ânimo para os pesquisadores e colaboradores da iniciativa, que, agora, atuarão efetivamente com a reprodução em cativeiro e a reintrodução dos animais na natureza.
O CCSS é considerado um criadouro científico, um lugar de pesquisa previsto por lei e licenciado pelo Instituto Estadual de Florestas, e contará com a nova instalação localizada na Vila Secundino do campus Viçosa para se desenvolver. O professor Fabiano de Melo, do Departamento de Engenharia Florestal, é quem coordena as atividades e afirmou que a pretensão é tornar o CCSS a iniciativa de maior importância para a conservação dos saguis-da-serra. “É dramático, para a biodiversidade, imaginar que temos indivíduos que estão à beira da extinção e não existe um planejamento de conservação”, destacou. “O que estamos vendo hoje é a mudança dessa história. Estamos escrevendo um novo capítulo para essas duas espécies”.
A cerimônia desta quarta-feira (3), inclusive, também celebrou a chegada dos primeiros saguis-da-serra-escuro – uma fêmea e um macho – que ficarão no Centro de Conservação. A espécie, caracterizada por uma pelagem de coloração clara na face, é nativa de Viçosa, mas está ameaçada principalmente pela perda de habitat e pelas espécies de saguis invasoras, que causam competição e hibridação. Os animais que ficarão no CCSS vieram de São Paulo, do Zoológico de Guarulhos e do criadouro conservacionista da Universidade do Vale do Paraíba, em São José dos Campos, e estão em processo de adaptação ao espaço. Agora, a iniciativa da UFV é a única que abriga o sagui-da-serra-escuro em cativeiro em Minas Gerais. De acordo com Fabiano, os animais já estão em idade reprodutiva e é possível que tenham filhotes em breve.
Segundo o professor, o Centro é realidade “porque foi construído por várias mãos”. Ele lembrou quando um dos seus orientados registrou a presença do sagui-da-serra-escuro em Viçosa em 2017, sendo que a espécie não era vista há mais de vinte anos na cidade. No mesmo ano, junto com o coordenador do Programa de Conservação dos Saguis-da-Serra e diretor-presidente da ONG Prea, Rodrigo de Carvalho, Fabiano idealizou a criação do espaço no campus Viçosa. Desde então o CCSS tem diversos parceiros, incluindo internacionais, como Beauval Nature e AFdPZ da França e Apenheul da Holanda, que investiram na iniciativa da UFV.
Na própria Universidade, o professor do Departamento de Medicina Veterinária Tarcízio Antônio de Paula é um exemplo de parceiro: além de ceder a instalação do Centro de Triagem de Animais Silvestres, atualmente desativado, passou a colaborar como médico veterinário responsável pelo CCSS. Já a professora do Departamento de Biologia Animal Fabiana Cristina de Melo colabora como orientadora dos cerca de 25 estudantes de graduação e pós-graduação vinculados ao espaço.
O apoio também vem de diferentes departamentos e setores, como o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCB) e o Centro de Ciências Agrárias. Entre os convidados da cerimônia, o reitor Demetrius David da Silva e o diretor do CCB, João Marcos de Araújo, reforçaram a relevância dessas parcerias para a consolidação do Centro de Conservação e avanço e inserção da Universidade em diferentes áreas. “Em um momento de recursos escassos, tanto recursos humanos quanto financeiros, temos que trabalhar dessa maneira”, considerou Demetrius.
O reitor ainda reforçou a importância do CCSS; tanto que sua inauguração correspondeu ao primeiro evento realizado presencialmente pela Universidade desde o início da pandemia da covid-19. Além das atividades de conservação, Demetrius ressaltou a capacitação intensa que o Centro proporcionará para os estudantes, agregando qualidade à formação oferecida a eles. “A UFV é uma instituição de porte pequeno a médio e jamais foi ou será conhecida pelo seu tamanho, mas, sim, pela sua qualidade. Essa é a nossa diferença, resultado da realização do ensino associado à pesquisa e à extensão. O CCSS é um exemplo disso”.
A inauguração foi transmitida pelo Instagram do Centro de Conservação. Por meio da rede social, é possível conhecer melhor o sagui-da-serra-escuro, que até ganhou data comemorativa e virou mascote em Viçosa, além de ser tema de um dos podcasts da UFV e nome de cerveja.
Outras fotografias, que mostram os demais convidados da cerimônia e as estruturas e equipamentos do CCSS, estão disponíveis no link photos.app.goo.gl/v6Vmdoad88hMwMAQ9.