Pesquisadores da UFV avaliam principais exames para diagnóstico da Covid-19
30 de abril de 2020

Os exames para o diagnóstico da Covid-19 são umas das principais ferramentas para auxiliar no combate à pandemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda: “testar, testar, testar”, já que é a partir da testagem massiva que se chega a uma confirmação maior de casos. Mas qual é o melhor exame laboratorial para detectar a Covid-19? A coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Luciana Moreira Lima, e dois docentes do programa, Camilo Amaro de Carvalho e Silvia Almeida Cardoso, todos professores do Departamento de Medicina e Enfermagem da UFV, esclarecem a partir da avaliação de dois métodos: o RT-PCR e o imunocromatografia.

De acordo com eles, o método utilizado como padrão ouro para o diagnóstico laboratorial da Covid-19 é o RT-PCR (sigla em inglês para transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase), ou PCR em tempo real, como é chamado no Brasil. Esse tipo de teste, que a UFV recebeu aprovação para realizar, tem como princípio a amplificação de quantidades mínimas do RNA do SARS-CoV-2, vírus causador da doença Covid-19, em amostras biológicas.

A partir de uma enzima, a transcriptase reversa, o RNA do vírus é transformado em DNA complementar, que é amplificado em 100 milhões de vezes, podendo ser detectado na amostra. O material genético do vírus é amplificado, detectado e quantificado em uma única etapa, diminuindo o risco de contaminação da reação e o tempo para a obtenção do resultado. O principal problema do método é que ele requer a utilização de equipamentos específicos, não disponíveis em todos os laboratórios, o que encarece o preço final do exame.  Além disso, o tempo de execução é prolongado e os resultados podem demorar até sete dias para serem liberados.

O RT-PCR é extremamente específico para o SARS-CoV-2, mas sua sensibilidade depende da amostra biológica utilizada e do tempo de infecção. Estudos demonstram que a carga viral só pode ser detectada por esse método até o 12º dia do início dos sintomas, no entanto, já foram descritos casos de detecção prolongada, principalmente em pacientes que apresentaram os sintomas mais graves.

Um trabalho de pesquisadores, liderados por Wenling Wang, descreveu que a sensibilidade do RT-PCR em lavado broncoalveolar (instilação seguida de aspiração de soro fisiológico no pulmão) ficou em torno de 93%; no escarro, 72%; no swab (espécie de cotonote para retirar o muco) nasal, 63%; no swab de orofaringe, 32%; nas fezes, 29%; no sangue, cerca de 1%; e na urina, 0%. Apesar da necessidade desses dados serem comprovados em outros centros de pesquisa, eles sugerem que um único resultado não detectado para SARS-CoV-2 por RT-PCR não pode excluir o diagnóstico laboratorial da Covid-19. O valor preditivo negativo do exame pode ser baixo, dependendo da amostra biológica utilizada e do período entre a contaminação e a coleta da amostra. Também é preciso considerar que o RT-PCR é um exame complementar, que apresenta alto valor preditivo positivo, ou seja, quando o resultado é positivo, a chance de o indivíduo ser portador do vírus é grande, perto de 100%. Isso não significa que o indivíduo tem a doença Covid-19, pode ser um portador assintomático. Portanto, apenas o médico que está acompanhando o paciente poderá interpretar o resultado do exame, pois ele tem acesso aos sinais e sintomas apresentados pelo indivíduo, além da história clínica do paciente e de outros exames complementares, como a tomografia computadorizada de tórax. Assim, quando o resultado do RT-PCR não concordar com os achados clínico-epidemiológicos, o médico poderá solicitar a repetição do exame em outra amostra biológica e em um momento diferente para auxiliar no diagnóstico.

Outra alternativa para diagnóstico laboratorial da Covid-19 são os testes qualitativos, rápidos, com o método de imunocromatografia. Este método utiliza uma membrana semipermeável que permite a migração da amostra. Para detectar o SARS-CoV-2 (Antígeno) na amostra, um anticorpo de captura altamente específico para o antígeno e marcado com partículas coloridas é impregnado na membrana. Quando a amostra contaminada pelo vírus passa pela região que contém o anticorpo impregnado, acontece a formação do complexo antígeno-anticorpo fazendo com que a região apresente uma faixa colorida, indicando a positividade do teste.

Pela imunocromatografia é possível identificar ainda a presença de anticorpos na amostra. Neste caso, um fragmento da sequência genética do SARS-CoV-2 (Antígeno), produzido em laboratório pela empresa fabricante do kit, é impregnado na membrana semipermeável e consegue formar o complexo antígeno-anticorpo quando há a presença de anticorpos na amostra. Já existe no mercado brasileiro os kits que identificam, ao mesmo tempo, os anticorpos das classes IgG e IgM, dependendo dos fragmentos do SARS-CoV-2 utilizados.

Os exames que utilizam o método de imunocromatografia para a Covid-19 são realizados no sangue, com fácil e rápida execução. A leitura pode ser realizada a olho nu em no máximo 20 minutos, não há necessidade de equipamentos e são bastante específicos. Já a sensibilidade do exame também depende do período da coleta, pois os níveis dos anticorpos no sangue só são detectáveis a partir de 7-10 dias após a infecção. A interpretação do exame também merece cuidados, uma vez que o padrão de liberação dos anticorpos IgG e IgM para o SARS-CoV-2 ainda não está totalmente esclarecido e há muitos estudos em andamento, que poderão indicar melhor o período em que os testes deverão ser realizados.

A partir da avaliação dos métodos utilizados, a professora Luciana Lima conclui que o melhor exame laboratorial para o diagnóstico da Covid-19 “é sempre o que está disponível, principalmente no caso da pandemia de SARS-CoV-19. Mesmo que o método apresente limitações, os laboratórios clínicos e os médicos precisam tirar o máximo de proveito de cada exame realizado, considerando todos os fatores descritos acima”.

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