Casal morre de Covid-19 em MG às vésperas do aniversário de 71 anos de casamento
1 de junho de 2020

Um dia após ter recebido a notícia da morte do marido, com quem permaneceu casada por praticamente 71 anos, Luiza Francisca Pereira revelou à família que não conseguiria ficar sem ele. Logo em seguida, ela precisou ser internada com os mesmos sintomas sentidos por Antônio Borges dos Santos, de 95 anos. Onze dias após a partida do marido, completados nesta quinta-feira (28), ela também faleceu. Comemorariam sete décadas e um ano juntos agora, no mês de junho, mas a celebração da história do casal acabou bruscamente interrompida pelos dois diagnósticos de coronavírus.

Moradores do município de Rio Manso, na região metropolitana de Belo Horizonte, Antônio e Luíza começaram uma família há sete décadas, hoje composta por 11 filhos, 30 netos, 33 bisnetos e cinco tataranetos. Apesar da tristeza de perder avô e avó em um período tão curto, a estudante Lívia Luiza de Oliveira Borges, de 17 anos, conta que o sentimento da família neste momento é de compreensão diante da impossibilidade de que Luiza vivesse sem Antônio.

“Como todos dizem: ‘o noivo chegou primeiro e estava esperando pela noiva’. Ela falou pra gente que não conseguiria viver sem ele. A história deles é como aquelas de desenhos ‘era uma vez…’, e a agora eles estão felizes para sempre”, comenta a neta.

Os avós da adolescente se conheceram em 1949. Ela conta que o avô estava de casamento marcado com outra mulher, mas um amigo dele decidiu ir até a casa onde Luiza vivia para pedi-la em casamento em nome de Antônio. “Pouco tempo depois, eles se conheceram pessoalmente e se casaram sem saber nada um do outro porque, como ele contava, os casamentos antigamente eram arrumados assim”, detalha Lívia.

Com o transcorrer de todos os anos, Antônio escreveu a própria história em um caderno, relatando a trajetória do casamento. Ele e Luiza, como a família destaca, mantinha uma relação de muito amor e afeto. “Minha avó morria de ciúmes dele. Estavam sempre juntos. Quando um ficava doente, logo, logo o outro também ficava de tanta preocupação”, contou.

A tristeza de Luiza neste mês de maio começou quando o marido começou a sentir falta de ar. Após uma piora, a família o levou até o posto de saúde de Rio Manso, que, em seguida, o transferiu para um hospital em São Joaquim de Bicas. A neta o encontrou pela última vez no dia em que ele morreu, em 17 de maio, intubado e respirando com ajuda de aparelhos, mas ainda sem diagnóstico de coronavírus.

“Eu fui até lá para ficar com ele como acompanhante. Ele sempre ficava apertando minha mão. No final da tarde, me pediram para sair do quarto onde ele estava, e ele morreu”. O laudo médico constava como “insuficiência respiratória”, e apenas três dias depois do velório a família recebeu um diagnóstico positivo de Covid-19, mesmo sem saber que antes existia a suspeita. “O hospital também não fez nada disso para nos prejudicar, mas acabou que aconteceu”, conta.

Apenas a avó dela, Luiza, também acabou infectada pelo coronavírus. A neta conta que após a internação do avô, Luiza se entristeceu e pedia que ele retornasse logo. “Ela ficou muito triste por ele não estar aqui perto dela. Quando o levaram para a internação, ela disse que estava louca para que ele voltasse”, conta. Um dia após ter recebido a notícia da morte do marido, ela também precisou ser internada.

O município de Rio Manso tem três casos de coronavírus, sendo dois os de Luiza e Antônio. O sentimento de uma despedida inesperada e dolorosa sentido pelos numerosos filhos, netos, bisnetos e tataranetos do casal acometeu também outras famílias de Minas Gerais, Estado onde, até esta sexta-feira (29), 257 pessoas morreram em decorrência da Covid-19. Mais de 9.000 casos já foram confirmados em Minas Gerais.

Fonte: O Tempo.

publicidade

publicidade

publicidade