Planejamento para uso da água permite crescimento sustentável da UFV
15 de junho de 2020

A água já não jorra mais em abundância. No mundo todo, o descaso com as nascentes, a urbanização sem planejamento, o uso irracional e a crescente demanda por água para agricultura, pecuária, indústrias e grandes cidades fazem do abastecimento de água um dos grandes desafios do presente e do futuro. Na UFV, não é diferente. Manter o abastecimento de água para uma universidade em constante crescimento depende de tecnologia, investimentos, planejamento e políticas públicas que extrapolam os limites dos campi e tornam mais estreitas as relações com os municípios.

Gerenciar o abastecimento de água no campus Viçosa é o desafio da Divisão de Água e Esgoto (DAG), ligada a Pró-Reitoria de Administração (PAD). Na cidade, as lagoas que compõem o cenário tão famoso dão a impressão de fartura, mas não é bem assim. O abastecimento do campus depende do frágil Ribeirão São Bartolomeu e das mudanças climáticas que agravam ainda mais a situação da disponibilidade de água.

“O São Bartolomeu é um fiapo de água cada vez mais deteriorado pelos problemas que envolvem a bacia, desde as nascentes”, disse João Pimenta, chefe da DAG. Ele afirma que, segundo dados do monitoramento realizado pelo Departamento de Engenharia Florestal, na década de 1970, a vazão do Ribeirão São Bartolomeu era de 200 litros por segundo, no período de seca. A água foi minguando e, em 2014, a vazão chegou a 40 litros por segundo, levando a um racionamento que envolveu toda a cidade. No ano passado, a vazão mínima registrada foi de apenas nove litros por segundo.

O problema é que a água do São Bartolomeu também abastece grande parte do centro de Viçosa. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto do município (SAAE) capta um volume aproximado de 60 litros/segundo e a UFV cerca de 11 litros/seg. A crise hídrica foi tão grave nos últimos anos que foi preciso a intervenção do Ministério Público para disciplinar o uso do manancial. Desde 2014, nos períodos de seca, a UFV e o SAAE precisam usar quase toda a água contida nas lagoas, criadas artificialmente na década de 1960 como reservatório para a Universidade. “A escassez não compromete apenas a oferta, mas também a qualidade da água disponível para o consumo”, disse João Pimenta.

Desde o primeiro ano de seca extrema na região, a UFV entendeu que a solução da crise no abastecimento não poderia ficar à mercê das mudanças no clima. “A escassez hídrica é muito complexa e envolve mudanças de comportamentos de consumo e uma série de iniciativas que demandam muito planejamento para dar conta do crescimento da Universidade. É o que estamos fazendo agora: planejando o futuro”, explica João.

Iniciativas para o campus Viçosa

Para encontrar soluções viáveis para o abastecimento foi preciso começar conhecendo melhor o consumo de água na UFV. João Pimenta conta que, até 2014, em todo o campus só havia três hidrômetros. “Se não monitoramos o consumo não sabemos onde estão os vazamentos da rede e nem podemos modificar padrões de utilização”.

Além da instalação de novos hidrômetros nos maiores prédios, a UFV também substituiu equipamentos, realizou campanhas de combate às perdas e de consumo consciente. Tais iniciativas conseguiram reduzir o consumo de 16 para 10 litros por segundo. Mas a universidade não para de crescer e foi preciso investir muito mais para que a água não seja um problema para esta expansão e para a manutenção das atividades. Em agosto de 2019, a Estação de Tratamento de Águas (ETA-UFV) inaugurou uma unidade para reúso da água de lavagem dos filtros. A iniciativa vem permitindo reutilizar pelo menos 100 mil litros de água a cada dois dias.

Em anos passados, a UFV alteou a barragem da represa de captação, aumentando a oferta de água. Agora, estão em andamento obras para tratamento de efluentes. O monitoramento do consumo por meio da hidrometração em todo o campus, já teve um grande avanço. Campanhas para a redução de desperdício e aumento da oferta com garantia da qualidade e até mesmo a construção de uma adutora para captação de água no Rio Turvo fazem parte dos objetivos da UFV para os próximos anos. Os projetos já estão detalhados e assegurados no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI)

Em julho do ano passado, a Pró-Reitoria de Administração da UFV estabeleceu um diálogo produtivo com o SAAE para discutir ações conjuntas em busca de soluções para o enfrentamento das questões que envolvem abastecimento de água.. A parceria já resultou na identificação de projetos desenvolvidos por pesquisadores da Universidade com expertise, por exemplo, em construção de barragens. Ainda  está prevista a finalização do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do São Bartolomeu, que tem como objetivo estabelecer normas para o uso da bacia e deverá valorizar os produtores rurais que protegerem as nascentes do Ribeirão.

No final do ano passado, a UFV se comprometeu a organizar o acervo técnico necessário para a implantação da Área de Proteção Ambiental (APA) do Turvo Sujo, assim como seu respectivo plano de manejo. A expectativa é que a implantação dessa APA assegure o abastecimento de água em Viçosa, Coimbra e Cajuri e beneficie a Universidade. Segundo o reitor, Demetrius Davi da Silva, "a UFV, com professores e técnicos de diversas áreas, deve garantir uma discussão técnica multidisciplinar que permita ações concretas na produção de água em quantidade e qualidade, além de possibilitar atividades econômicas na área”.

Além de garantir eficiência no abastecimento, as ações que a UFV tem desenvolvido buscam consolidar formas mais sustentáveis de gerir a água nos campi. Por isso, em meados de 2019, foi criada a campanha UFV Sustentável que tem, entre os objetivos, o incentivo ao uso consciente de água.

Rio Paranaíba e Florestal

Dos três campi da UFV, o de Florestal é o mais abundante em oferta de água. Não apenas porque a região aonde está tem sofrido menos os impactos da escassez, mas porque as nascentes que abastecem o campus ficam dentro dele e são muito bem cuidadas para que a água não falte. A UFV-Florestal cresceu muito nos últimos 15 anos, quando se tornou, de fato, uma universidade. Enquanto ainda era Central de Ensino e Desenvolvimento Agrário de Florestal (Cedaf), a água vinha apenas de poços artesianos. Agora, vem também de uma represa alimentada pelas nascentes.

Para crescer, um campus precisa de muita água. Atualmente, o consumo é de 200 mil litros ao dia. Se continuarem bem cuidadas, as nascentes devem acompanhar este crescimento por mais uma ou duas décadas. O maior desafio, segundo o chefe do Setor de Água e Esgoto, Emerson dos Santos, é conter os vazamentos e trocar toda a velha tubulação. Os projetos de hidrometração já estão em andamento.

Em Rio Paranaíba, os problemas são semelhantes à Viçosa. Segundo o professor Marcelo Ribeiro Pereira, o campus é abastecido pela Copasa, assim como todo o município. Na região, a agropecuária também é uma grande consumidora. Toda a água vem de um único manancial que, assim como o São Bartolomeu, sofre a pressão dos empreendimentos imobiliários que afetam as nascentes.  A demanda da UFV/CRP é de  20 mil litros/dia. No campus, a diretoria vem investindo na prática diária de monitorar o consumo para evitar os vazamentos. Para isso, conta com projetos que estão sendo executados e permitirão que o campus cresça acompanhado pela abundância de água.

Léa Medeiros

Divulgação Institucional

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