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Falta de medicamentos para uso em UTI faz Hospital do Câncer de Muriaé suspender procedimentos cirúrgicos eletivos
29 de julho de 2020

O Hospital do Câncer de Muriaé, mantido pela Fundação Cristiano Varella, suspendeu nesta sexta-feira (24) os procedimentos cirúrgicos eletivos que precisam de suporte de terapia intensiva e anestesia geral. A medida, inicialmente, será adotada até a próxima sexta-feira (31). As cirurgias de urgência e emergência e as que não precisam de anestesia geral e terapia intensiva estão mantidas. O motivo é a escassez de medicamentos utilizados em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e as altas taxas de ocupação de leitos exclusivos para pacientes oncológicos com Covid-19.

De acordo com a instituição, é a primeira vez que estes procedimentos são suspensos durante a pandemia da Covid-19.

A falta de sedativos, anestésicos e bloqueadores neuromusculares nos principais hospitais da Zona da Mata foi mostrada pelo G1 em junho. Desde então, um parecer do Centro de Operações de Emergência em Saúde (COES) orientou a suspensão de cirurgias eletivas não essenciais na rede pública e na rede privada.

Entretanto, não é fácil categorizar cirurgias para pacientes oncológicos como procedimentos eletivos, devido a complexidade e as particularidades do quadro de cada paciente. Para entender a situação, a reportagem conversou com o gerente administrativo do Hospital do Câncer, José Alexandre do Nascimento Alves. Veja abaixo.

Estoque para 50 dias foi consumido rapidamente

Até sexta-feira (24), a Prefeitura de Muriaé contabilizava 50 mortes pela Covid-19, 1.582 pacientes confirmados, sendo que 1.286 foram considerados recuperados da doenças.

Além do parecer do COES, a Prefeitura publicou em decreto em junho, que determinou que todos os hospitais e clínicas em funcionamento em Muriaé, incluindo a rede privada, suspendesse a realização de cirurgias eletivas, observadas as determinações dos Conselhos Federal e Regional de Medicina e do Ministério da Saúde, sob pena de cassação dos alvarás de funcionamento concedidos pelo Poder Público.

Segundo apurado pelo G1, o decreto ainda está em vigor. Entretanto, o gerente administrativo José Alexandre do Nascimento Alves explicou que no Hospital do Câncer é a primeira vez que ocorre a suspensão e que nos períodos anteriores, a instituição estava em processo de racionamento das cirurgias não urgentes, avaliando cada caso.

"No caso do procedimento oncológico, é difícil falar de procedimento eletivo. Fizemos um trabalho, desde o início da pandemia, de racionamento e de análise individual dos casos, pontuando os riscos e benefícios para cada paciente. No primeiro momento, o que fizemos era uma agenda em um ritmo menor e com análise dos critérios clínicos dos pacientes. Agora é uma situação mais específica, neste momento em função da escassez de insumos e do pico de consumo dos medicamentos, tivemos que adotar essa medida mais severa", explicou Alexandre.

A classe de medicamentos que está em falta são os bloqueadores neuromusculares, que servem para interromper ou simular a transmissão de impulsos nervosos. Eles são utilizados em anestesia e proporcionam um relaxamento da musculatura esquelética. Além disso, estes medicamentos permitem a realização da intubação para facilitar a ventilação mecânica.

De acordo com o gerente, o Cisatracúrio é que está em falta, inclusive para compra. "Por causa do pico de consumo que tivemos na última semana, o estoque que seria suficiente para 50 dias, entrou em nível crítico em poucos dias".

O aumento do consumo desses medicamentos está relacionado ao número crescente de pacientes de Covid-19 que a instituição atende. Porém, segundo orientação da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) para a macrorregião de Saúde Sudeste, o hospital atende apenas a pacientes oncológicos de Muriaé e região que estão com coronavírus. O público em geral, com suspeita ou confirmação da Covid-19, é direcionado para outros hospitais de referência.

Mesmo assim, o Hospital do Câncer, que recebe 90% de seus pacientes através do Sistema Único de Saúde (SUS), chegou a 100% de lotação dos leitos de UTI exclusivos para Covid-19 nesta semana. Por causa disso, a Fundação chegou a cogitar o direcionamento e transferência de casos suspeitos da doença para outros hospitais referências de atendimento geral de Muriaé ou das cidades de origem dos pacientes.

"Nós tivemos um dia da semana com 100% de ocupação, mas felizmente está diminuindo. O que nos preocupa é que não sabemos qual volume que pode vir de uma única vez", explicou o gerente. Para tratamento do coronavírus nestes pacientes com câncer, uma ala com 12 leitos clínicos foi adaptada e cinco leitos de UTI.

Medidas adotadas

Segundo Alexandre, já foi realizado o contato com os fabricantes e fornecedores do Cisatracúrio e similares, e a previsão é que ocorra um abastecimento já na próxima semana.

A Fundação Cristiano Varella reforçou que segue as recomendações e normativas em vigor, emitidas por Ministério da Saúde, Anvisa, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Secretaria Municipal de Saúde de Muriaé e demais órgãos e entidades da área da Saúde.

A instituição também informou que enviou um ofício em junho relatado a situação da falta de medicamentos para o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). A reportagem procurou o MPMG para saber quais providências foram tomadas e até a última atualização desta matéria, não obteve retorno.

O Hospital do Câncer de Muriaé ressaltou que realizou todos os esforços até agora para que não houvesse impacto nos procedimentos e atendimentos pela falta de insumos no mercado, de alguns medicamentos essenciais para grandes cirurgias.

Fonte: G1.