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Professor da UFV participa da descrição de um fóssil raro de inseto aquático
30 de outubro de 2020

O professor Frederico Salles, do Departamento de Entomologia da UFV, e três pesquisadores das universidades Federal do Espírito Santo (Ufes) e Regional do Cariri (Urca) descreveram um novo fóssil e uma nova espécie de inseto aquático. O vestígio do animal foi encontrado em uma unidade geológica – um conjunto de rochas – chamada de Formação Crato, localizada no município de Nova Olinda, na Bacia do Araripe, no sul do Ceará. As informações foram publicadas em um artigo da revista científica Plos One nesta quarta-feira (28) e são parte da pesquisa de mestrado de Arianny Storari – primeira autora, vinculada à Ufes. O fóssil é de um inseto aquático da ordem Ephemeroptera, cujos representantes também são conhecidos como efêmeras: sua fase larval é aquática e a fase adulta dura poucos dias, horas ou até minutos.

O fóssil foi coletado por paleontólogos da Urca em uma rocha formada na época do Cretáceo Inferior, entre 113 e 125 milhões de anos atrás, quando a África e América do Sul ainda estavam se separando. Trata-se do vestígio de um adulto. A espécie foi incluída na família Oligoneuriidae e recebeu o nome de Incogemina nubila, cujo primeiro termo significa geminação incompleta e é referente ao padrão das veias das suas asas. Já o termo nubila significa nublado e representa a coloração acinzentada do calcário onde o fóssil foi preservado. De acordo com Frederico, que coorientou a pesquisa de mestrado, "a distribuição das veias das asas de Incogemina combina um padrão no qual algumas veias longitudinais tendem a se juntar, como na maioria dos representantes da família Oligoneuriidae, com um padrão ancestral, típico das demais efêmeras. Essa é principal característica que faz essa nova espécie ser única". A descoberta ainda corresponde a um novo gênero e a uma nova subfamília, dadas suas peculiaridades.

Os fósseis da ordem Ephemeroptera são abundantes na Formação Crato. Os da família Oligoneuriidae, porém, são raros: este é apenas o segundo vestígio de um adulto encontrado no mundo – e o primeiro descrito. Ele contribuiu para que os quatro pesquisadores brasileiros constatassem que uma foto publicada em um outro artigo científico, por colegas da Alemanha, também se refere a um fóssil de Incogemina nubila. "Uma das explicações para a escassez de fósseis desse grupo pode se dar pelo seu hábito de vida. Durante a fase jovem, a maioria das larvas da família Oligoneuriidae vivem em ambientes com fluxo d'água corrente. Esse tipo de ambiente não é propício para a preservação de um inseto tão delicado, dado que a correnteza destruiria suas partes mais sensíveis, dificultando a fossilização", segundo Arianny Storari.

A professora do Departamento de Ciências Biológicas da Ufes Taissa Rodrigues, que orientou a pesquisa de mestrado e também assina o artigo, destaca que o novo fóssil é um dos poucos da Bacia do Araripe que tem proveniência esclarecida. “Apesar de outras espécies de efêmeras serem conhecidas para este depósito fossilífero, elas foram coletadas de forma ocasional, e não há nenhuma informação sobre o local do achado. Como conhecemos o local onde a Incogemina nubila foi encontrada, é possível planejar coletas para buscar mais fósseis dessa espécie rara”.

"Agora, que a primeira escavação controlada na Formação Crato foi realizada pela equipe do Laboratório de Paleontologia da Urca, certamente novas informações acerca da evolução das efêmeras devem surgir, além de dados sobre o ambiente pretérito da Formação Crato, área de intensa exploração do calcário laminado”, explica o outro autor do artigo, o professor do Departamento de Ciências Biológicas da Urca Antônio Álamo Saraiva. Informações obtidas a partir da análise desses insetos aquáticos podem dizer muito sobre o ambiente no qual viveram, incluindo os estresses climáticos experimentados.

Espécies de efêmeras são consideradas como importantes bioindicadores da qualidade da água, já que, na fase larval, são sensíveis às variações do meio ambiente onde vivem. Em 2020 mesmo, o professor Frederico participou da descoberta da espécie Rivudiva inma e contribuiu com um trabalho inédito de avaliação do impacto da degradação da vegetação ribeirinha na biodiversidade aquática da região neotropical.

A primeira foto foi produzida por Frederico e mostra o holótipo da espécie – exemplar no qual a descrição taxonômica foi baseada. Abaixo está um registro, realizado por Flaviana Lima, do local onde o fóssil foi coletado.

Divulgação Institucional

Fonte: UFV.