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Professor da UFV descreve nova espécie de primata na Amazônia
30 de agosto de 2021

O professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Fabiano Rodrigues de Melo, foi um dos responsáveis pelo artigo publicado na revista internacional Scientific Reports, que descreveu uma nova espécie de primata, o sagui-de-Schneider, com nome científico Mico schneideri.

Fabiano é biólogo formado pela UFV, com doutorado em ecologia, conservação e manejo de vidas silvestres, pela UFMG. Desde 2019, é professor do departamento de Engenharia Florestal da UFV. Além disso, é o representante brasileiro, do grupo de especialistas em primatas, da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN). Assim, teve a oportunidade de participar dessa pesquisa, que contou com pesquisadores brasileiros e do Reino Unido.

O macaco descrito pelo artigo é endêmico da região do norte do Mato Grosso, que está inclusa na Amazônia.

A reportagem do Primeiro a Saber conversou com Fabiano sobre esse artigo, que explicou sobre a complexidade da pesquisa.

Esse tipo de trabalho é muito complexo. Nenhuma revista aceita a descrição de uma espécie nova, ainda mais se tratando de macacos, se não for um trabalho muito bem feito. Então, é um trabalho de análise anatômica, comparando um animal com outras espécies. Também analisamos o DNA, analisando o conjunto genético daquela nova espécie, fazendo um estudo de laboratório, comparando de novo com outras espécies. Finalmente, vamos conhecer onde a espécie vive, analisando a distribuição geográfica dela. Juntamos tudo isso em um artigo e a partir daí, temos o trabalho de convencer uma revista internacional, que no nosso caso, foi a Scientific Reports.

O professor, que também é o coordenador do Centro de Conservação dos Saguis da Serra da UFV, nos contou sobre a importância de realizar essa pesquisa.

É importante para todo mundo, porque a biodiversidade é a base do conhecimento que temos para usufruir dos recursos naturais. Se a gente não conhece a natureza, o conjunto de espécies, a gente não consegue lidar com o manejo, com a intervenção, com o desenvolvimento sustentável do nosso planeta. Então conhecer a biodiversidade é como se fosse aquele checklist número um. Nós não conhecemos 15% da biodiversidade mundial. Prova disso é o nosso artigo, afinal, estamos descrevendo uma nova espécie de macaco. O macaco é um animal de grande porte, que enxergamos facilmente, que é próximo a espécie humana e que mesmo assim, temos dificuldade em descrever várias espécies novas. Isso mostra o nosso desconhecimento sobre a biodiversidade. Então eu acho que o primeiro impacto desse artigo é justamente esse: mostrar para a sociedade que a gente conhece bem menos a nossa biodiversidade e que precisamos pesquisar ainda mais. Aí o segundo impacto: a biodiversidade do Brasil é a maior do mundo. Temos uma responsabilidade muito grande porque o nosso país tem a maior biodiversidade de macacos no mundo, e ainda assim estamos descrevendo espécies novas.

O professor ainda destacou sobre a urgência de realizar essa pesquisa, afinal, a região está no arco do desmatamento. Assim, necessita de atenção redobrada para evitar a extinção de uma espécie que acabou de ser descrita.

Fabiano também destacou que outras pesquisas estão para ser realizadas na região.

Pretendemos fazer mais pesquisas na região. Estou com uma proposta de projeto para o pessoal da UHE Teles Pires. A região é chamada de centro de endemismo, muito importante para a biodiversidade porque, ao longo dos últimos milênios, gerou muitas espécies nesses últimos milênios. Então, com o desmatamento, precisamos correr para identificar novas espécies. Tem várias espécies, não só de primatas, como roedores, marsupiais para serem identificados

O artigo completo, publicado na Scientific Reports, uma extensão da revista Nature, pode ser visualizado aqui.