Minas tem cerca de 113 mil cirurgias atrasadas devido à pandemia, diz estudo
3 de setembro de 2021

Um aluno e dois ex-alunos da Faculdade de Medicina da UFMG estão entre os autores de um estudo que estima o atraso nas cirurgias eletivas e de emergência ocorrido em razão do combate à pandemia. Foram mais de 1 milhão de cirurgias acumuladas no Brasil em 2020. No caso do estado de Minas Gerais, estima-se que aproximadamente 113 mil cirurgias não ocorreram no ano de 2020, das quais 13 mil seriam de emergência e 100 mil eletivas. A pesquisa foi publicada na edição regional da revista The Lancet.

O trabalho é resultado do Programa em Cirurgia Global e Mudança Social (PGSSC), um esforço colaborativo entre os hospitais de ensino da Universidade de Harvard, o Departamento de Saúde Global e Medicina Social da Harvard Medical School, o Hospital Infantil de Boston (BCH) e o Partners In Health (PIH). O trabalho contou com um grupo colaborador do Brasil, com vários profissionais de saúde e estudantes de diversos estados.

Entre março e dezembro de 2020, o acúmulo foi de 1.119.433 cirurgias, sendo 161.321 de emergência e 928.758 operações eletivas. Foi observado que mais rigor dos governos locais na contenção da Covid reduz atrasos de cirurgias de emergência a quase zero, mas pode triplicar o acúmulo de cirurgias eletivas. Por isso, esforços governamentais serão necessários para abordar especificamente o acúmulo das cirurgias eletivas.

“Nós observamos uma queda de 40% de cirurgias eletivas realizadas no Brasil comparada ao ano anterior. Por um lado, essa redução se explica pela priorização de procedimentos mais urgentes, realocação de recursos e manejo dos profissionais de saúde durante a pandemia. Inclusive, esse padrão acompanha aquele em outros países com grande volume de cirurgias”, explica Isabella Faria, egressa da turma de 2020 e pesquisadora associada do Harvard PGSSC.

Os pesquisadores observam que, se as medidas de contenção a nível nacional fossem mais restritivas (proporcionando uma maior contenção do vírus), em conjunto com um maior preparo do sistema de saúde para momentos de crise, possivelmente menos cirurgias teriam de ser canceladas ou adiadas. “Com isso não teríamos um contingente gigantesco de atrasos cirúrgicos”, analisa Faria, que ressalta a importância de se considerar tanto os fatores previsíveis quanto aqueles ligados à governança e a gestão em saúde para a explicação do quadro no Brasil.

Essa foi a primeira publicação de um país da América Latina e de um país em desenvolvimento sobre o acúmulo de cirurgias provocado pela pandemia.

Os pesquisadores entendem que os dados podem apoiar uma melhor gestão no SUS e guiar outros países a entenderem como estão e traçar suas próprias estratégias. “Este estudo pode permitir a tomada de políticas públicas para atenuar os efeitos desse acúmulo e para garantir um acesso seguro, em tempo hábil, e de qualidade a serviços de cirurgia pela população”, afirma a pesquisadora.

O grupo coletou dados referentes ao número de cirurgias realizadas mensalmente por cada estado brasileiro entre janeiro de 2016 e dezembro de 2020, por meio da plataforma do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Além disso, foram levados em consideração o número de casos confirmados de covid-19 notificados mensalmente por estado e dados da Oxford COVID-19 Government Response Tracker (OxCGRT) - uma grande base de dados composta por colaboradores de diversos países.

O Programa em Cirurgia Global e Mudança Social (PGSSC) da Harvard Medical School trabalha junto a países em desenvolvimento e visa garantir e melhorar acesso à cirurgia, anestesia, ginecologia e obstetrícia de maneira segura e financeiramente acessível para todos. O campo da cirurgia global une cirurgia e saúde pública e se constitui como um novo braço da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A participação da egressa no PGSSC começou em julho de 2021 e vai até julho de 2022. O processo seletivo foi ao longo de 2019, quando Isabella era aluna de graduação na UFMG. “O programa vai de encontro com a visão da Faculdade de Medicina, de sempre buscar dar um retorno para a sociedade com as pesquisas e com os vários projetos de extensão, que sempre ajudam as pessoas”, finaliza Faria.

Fonte: O Tempo / UFMG

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