UFV: Pesquisa descobre benefícios de proteínas da chia para reduzir o risco de doenças cardiovasculares
14 de setembro de 2021

Dizem que os astecas já comiam sementes de chia para saciar a fome em grandes viagens. Há cerca de dez anos, em muitos países, a planta típica dos Andes virou moda entre os que buscam uma alimentação saudável. Para avalizar o consumo da chia como alimento com propriedade funcional, a ciência foi buscar as confirmações e descobriu que sim, as fibras e gorduras das sementes de chia são benéficas para a manutenção da saúde e para a redução do risco de doenças cardiovasculares. Além das fibras e gorduras, 20% desta semente é composta de proteínas e, até agora, a ciência ainda não conhecia bem o efeito delas na saúde. Esse foi o objetivo de uma tese defendida, ano passado, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição da UFV (PPGCN). As descobertas foram tão surpreendentes que o trabalho ganhou o prêmio Capes de Tese 2020, um reconhecimento nacional como a melhor tese defendida na área da Nutrição em todo o país.

O trabalho foi desenvolvido pela pesquisadora Mariana Grancieri, agora pós-doutoranda no Laboratório de Nutrição Experimental da UFV, orientado pela professora Hércia Stampini Martino. A pesquisa já rendeu quatro artigos em revistas científicas de alto impacto. Além de um grande aprofundamento teórico no conhecimento dos benefícios da planta, os resultados podem gerar suplementos alimentares e produtos fitoterápicos de grande utilidade para redução do risco de desenvolvimento e complicações das doenças cardiovasculares, bem como obesidade, diabetes e inflamações crônicas. Vale lembrar que as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade e redução da qualidade de vida da população brasileira e mundial.

Mariana Grancieri explica que o objetivo do trabalho foi verificar se, além das fibras e lipídeos, as proteínas da chia também teriam efeitos promissores contra as principais alterações metabólicas relacionadas ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares, incluindo a inflamação, adipogênese, nome dado à formação de células de gordura, e aterosclerose. Para isso, foi preciso separar os tipos de proteínas e simular a digestão destas, tal como ocorre naturalmente no organismo humano, para, então, testá-las em células. Em outro trabalho, posterior à tese, estas proteínas digeridas foram testadas em camundongos induzidos à obesidade e os resultados foram igualmente inéditos e promissores.

O trabalho demonstrou que, após a digestão, as proteínas da chia produziram peptídeos com efeitos anti-inflamatórios, anti-aterogênicos e anti-adipogenicos, reduzindo, portanto, alterações metabólicas diretamente relacionadas ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares. “Descobrimos que as proteínas da chia também possuem efeitos positivos contra alterações indutoras de doenças cardiovasculares, além das fibras e lipídeos que eram tidos como principais responsáveis por esses efeitos benéficos. Nós também constatamos que o elevado teor de lipídeos da chia, principalmente o ômega-3, é decorrente da composição proteica dessa semente. No desenvolvimento da planta, a configuração proteica é o que permite o armazenamento dos lipídeos”, afirmou Mariana. Os estudos foram feitos com testes bioquímicos e de bioinformática realizados na UFV e na Universidade de Illinois (EUA), onde a pesquisadora fez parte do seu doutoramento.

Para a professora Hércia, os conhecimentos gerados com esse trabalho ressaltam novos mecanismos benéficos da chia, estimulando, ainda mais, seu consumo pela população. “Estes benefícios são ainda melhores se considerarmos o baixo custo da chia, ampliando o acesso a um maior número de pessoas que podem se beneficiar dessa semente para reduzir o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e obesidade, bem como outras relacionadas à inflamação, como diabetes e câncer. Além disso, o maior consumo de chia pode estimular ainda mais seu plantio, agregando à economia do país”, disse a orientadora do trabalho.

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