Caso Gabriel: pontenovense assassinado em Viçosa em 2015 completaria 24 anos hoje (24)
24 de setembro de 2021

Gabriel Oliveira Maciel, pontenovense desaparecido após uma calourada promovida pela República Qkické, em Viçosa, no dia 06/03/2015, e encontrado morto três dias depois, nu e em uma vala, completaria 24 anos nesta sexta-feira (24). O crime ainda segue com várias perguntas em aberto, para tentar responde-las, uma audiência está marcada para o dia 28/10/2021. Na ocasião, suspeitos que já haviam sido presos em 2016 serão ouvidos pelo juiz de direito Rodrigo Eustáquio Favato.

De acordo com informações repassadas pela família da vítima, o último registro de Gabriel vivo foi através de uma foto de WhatsApp, enviado pelo próprio garoto para a família, em que ele aparecia ao lado de sua suposta namorada, quem o havia levado para a festa, com autorização da avó.

A avó do garoto, Regina Maciel, e o radialista de Ponte Nova Robson Lemos, concederam uma entrevista exclusiva ao Jornal da Montanhesa na última quinta-feira (23), para falar sobre o crime (assista a entrevista na íntegra). Segundo eles, a garota insistiu para levar o menino de, na época, 17 anos, para a festa. Além disso, havia prometido que traria ele de volta no dia seguinte, pela manhã.

"Ele não conhecia Viçosa. A namorada se responsabilizou, disse que voltaria com ele no sábado, pois ele tinha uma prova. Simplesmente ele desapareceu. Ela não nos avisou. A gente estava sem saber nada mesmo", afirma dona Regina.

Ainda segundo a avó do garoto, como ele não chegou no horário combinado, a família começou a pregar cartazes para tentar localizar o jovem. No entanto, infelizmente Gabriel Maciel foi encontrado já sem vida, três dias após a realização da festa e com inúmeros sinais de tortura.

Após o bárbaro crime, a mãe, Sayonara Oliveira Maciel, que tinha apenas um filho, passou a sofrer de inúmeros problemas de saúde e psicológicos. Atualmente, segundo dona Regina, ela não anda mais sozinha, sofre de Mal de Parkinson, teve aneurisma, tentou se suicidar algumas vezes e teve de ser internada em uma clínica psiquiátrica. Atualmente, ela mora com a avó do Gabriel e recebe os cuidados de médicos por 24h.

"É uma dor dilacerante. Que eu, constantemente, trago um sorriso nos lábios, mas o coração partido de dor. Era um neto muito amado", completa a avó do garoto.

Garoto tranquilo

Descrito pela avó como um rapaz da igreja evangélica e que participava frequentemente do grupo de jovens da Maranata, a descrição é a mesma quando falada por outras pessoas. Em contato com a nossa equipe de reportagem, uma conhecida da família afirmou que ele era um garoto sempre tranquilo e que não causava problemas.

Além disso, uma outra testemunha também ouvida pelo Primeiro a Saber, a qual teve contato com Gabriel na infância, confirma a última descrição. Cita ainda, que a possibilidade dele ter provocado qualquer tipo de briga no local é praticamente nula.

O caso

Segundo informou o G1, de acordo com familiares, Gabriel saiu de casa, em Ponte Nova, para encontrar uma suposta namorada para ir ao evento. O corpo do adolescente foi localizado três dias depois, dentro de uma vala em uma área experimental que pertence à UFV, próxima a BR-120. A Perícia esclareceu que a vítima, provavelmente, foi morta em outro local e transportada para onde foi encontrada.

De acordo com a avó e o radialista Robson Lemos, há informações de que seis pessoas participaram do crime, sendo quatro de Viçosa e dois de Ponte Nova, e uma outra pessoa ainda havia participado indiretamente. Ainda segundo eles, uma testemunha havia visto o garoto recebendo algumas pauladas e sendo colocado num carro vermelho, com cinco pessoas que estavam batendo nele.

Antes de ser desovado em posição erótica e levado um último tiro para execução, o garoto ainda foi espancado, torturado, estuprado, mutilado e teve seus órgãos genitais cortados.

De acordo com a mãe de Gabriel, ele saiu de casa dizendo que não iria ao evento, mas apenas encontrar a suposta namorada. "Fui dormir tranquila. Ele me disse que voltaria no primeiro horário de ônibus porque tinha cursinho às 10h. Às 7h eu comecei a ligar para ele, o telefone chamava e não atendia. Depois houve um retorno do celular dele para mim. Eu só ouvi um gemido. Eu liguei várias vezes depois até o celular dele descarregar", contou.

Mudança de versão por parte da namorada

Segundo o Boletim de Ocorrência da época, o Conselho Tutelar foi até a casa da suposta namorada após o registro do caso. Inicialmente, ela confirmou que esteve com o adolescente na festa e que ele teria feito uso de drogas e bebida alcoólica sem moderação. Ela contou que foi embora e o deixou na festa após discutirem. Contudo, dias depois, ela mudou a versão.

Em novo depoimento, a namorada, na época de 19 anos, mudou a forma como citou as ações do jovem na festa. Dessa vez, ela contou que Gabriel bebeu pouco e não usou drogas. Ela disse que ele estava totalmente lúcido quando se falaram pela última vez, quando iria para casa.

Conforme a assessoria da polícia, em matéria divulgada pelo G1 em 2015, a jovem também relatou que ele pretendia ficar na festa para conversar com amigos. Em seguida, ela foi embora, por volta de 3h do sábado (7) e às 6h recebeu a notícia de que Gabriel não havia chegado. Ainda conforme a assessoria, ao ser questionada pelo delegado sobre esta diferença nos relatos, a jovem informou que "em momento nenhum disse o que consta na ocorrência".

Além disso, durante a entrevista concedida ao Jornal da Montanhesa da última quinta-feira (23), o radialista de Ponte Nova, Robson Lemos, afirmou que através de mensagens de texto, a suposta namorada do Gabriel havia dito que eles eram "apenas amigos".

Ainda em relação a suposta namorada, a avó de Gabriel também fez questionamentos durante o Jornal da Montanhesa. Segundo ela, uma coisa que lhe chamou muito a atenção é que no domingo pela manhã, após o desaparecimento do seu neto, uma outra filha, tia do garoto, foi relatar ao delegado que ele estava sumido.

Mas, para a surpresa, a jovem namorada do rapaz já estava por lá e não havia, nem sequer, telefonado para a família para avisar do acontecido.

"Não estou acusando ninguém. Só lamento, que a menina em que ele confiou, que ele beijou, ofereceu flores e bombons, não veio nos dar um abraço. Não nos comunicou que ele sumiu. Nós precisávamos disso.  Ela deveria ter entrado em contato e poderia ter ido ao sepultamento dele", diz a avó.

Suspeitos presos e ônibus incendiado

No dia 20/07/2016, a Polícia Civil divulgou que havia prendido alguns suspeitos no envolvimento na morte do garoto, sem dar mais detalhes do ocorrido. Entretanto, no mesmo dia, um ônibus da empresa que fazia o transporte público em Viçosa foi incendiado por um adolescente de 15 anos de idade. 

De acordo com a polícia, o menor havia comprado um galão em um posto de combustível. Após isso, foi até um ponto de ônibus, deu sinal para que o automóvel parasse e, já dentro do coletivo, obrigou que todos os passageiros descessem.

Aos policiais, o menor contou que cometeu o crime a mando de dois homens maiores de idades, que também foram presos. Além disso, ele confirmou que o ato foi uma represália após a Polícia Civil realizar a “Operação Arcanjo” e prender os suspeitos da morte do Gabriel.

Crime sem solução

Até o presente momento, mais de seis anos após a realização do crime, ele segue sem solução e a família ainda pede explicações. A primeira hipótese levantada pela investigação da Polícia Civil era de latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte. No entanto, a assessoria informou que a força-tarefa montada pela PC descartou a possibilidade.

"Eu quero saber qual o motivo, onde foi a execução. Nós temos direito da verdade. Queremos saber se ele era um pedófilo, um assassino, se ele era um traficante, se ele devis alguma droga em Viçosa. Por que mataram meu neto?", questiona a avó do Gabriel.

No próximo mês, no dia 28/10, uma audiência será realizada em Viçosa e ouvirá os suspeitos de cometer o crime, presos em 2016, mas ainda impunes. Ela acontecerá no Fórum da Comarca de Viçosa, a partir das 13h30min. A avó do garoto e o radialista de Ponte Nova confirmaram que estarão presentes e pedem para que a população de Viçosa esteja presente.

Além disso, pedem, claro, para que os autores sejam punidos no rigor da lei.

"Eu peço o povo de Viçosa para pedir "júri popular". E o direito da família saber o motivo dele ter sido executado. O motivo dele ter sido torturado. Qual crime ele cometeu se ele não conhecia a cidade de Viçosa?", pede dona Regina.

Confira abaixo o Jornal da Montanhesa do dia 23/09, com a entrevista completa da avó do Gabriel Maciel, Regina Maciel, e o radialista Robson Lemos.

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