Reunião contou com a presença de representantes do Hospital Nossa Senhora das Dores, de Ponte Nova
Durante a reunião ordinária de ontem, segunda-feira (19), a Câmara Municipal de Viçosa recebeu representantes do Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD), de Ponte Nova, para uma discussão com foco no serviço de oncologia prestado pela instituição. A presença dos convidados atendeu ao Requerimento nº 23/2025, de autoria do vereador Ronildo Antônio Ferreira, o DJ Ronny (PSD), que defendeu a importância do debate diante da relevância do tema para a população viçosense.
“Andando pela cidade, ouvimos constantemente a população falar sobre o tratamento oncológico, e por isso é tão importante dar espaço para que o Hospital Nossa Senhora das Dores possa apresentar o trabalho que realiza”, afirmou o parlamentar, ao justificar o convite. DJ Ronny reforçou que o objetivo do encontro não era confrontar ou comparar instituições de saúde, como o HNSD e a Fundação Cristiano Varella (de Muriaé), mas sim valorizar o atendimento humanizado e de qualidade oferecido mais próximo de Viçosa. “O único lado que existe é o lado do povo”, disse o vereador, defendendo que Viçosa mantenha um braço oncológico próprio para garantir mais conforto aos pacientes da cidade e região.
Compuseram a mesa da reunião o consultor José Bueno de Magalhães, o médico oncologista Dr. Fábio Reder, o coloproctologista e diretor clínico do hospital Dr. Ranieri Santos, o radioterapeuta Dr. Henrique Hott, o superintendente executivo Lucas Câmara Assumpção, a gerente da oncologia Nayara Rúbio e a assessora de comunicação Isabella Ottoni. Também participou da mesa dos trabalhos o secretário municipal de Saúde, Marcos Alexandre Vieira.
Durante a fala inicial, o diretor clínico Dr. Ranieri Santos destacou a trajetória centenária do HNSD, que hoje conta com mais de 70 médicos efetivos em seu corpo clínico, além de diversos profissionais plantonistas e prestadores de serviço. “É uma instituição que acompanho há nove anos, desde que finalizei minha formação. Pude ver o crescimento, a expansão, a implantação de novos serviços e o aprimoramento da assistência prestada aos nossos pacientes, seja na área de diagnóstico, cirurgia, quimioterapia ou, mais recentemente, radioterapia”, afirmou.
O médico também ressaltou o acolhimento humanizado como um dos diferenciais do hospital, ao lado da qualidade técnica. “Temos uma postura muito humanística diante dos pacientes e seus familiares. Essa é uma marca da nossa atuação. E estamos aqui hoje justamente para demonstrar, com transparência, a estrutura que oferecemos”, afirmou Ranieri.
Já o coordenador da Oncologia Clínica, Dr. Fábio Reder, ressaltou a robustez e expansão do serviço, que combina oncologia clínica, cirurgia oncológica e radioterapia. Segundo ele, a equipe multidisciplinar oferece atendimento completo com especialidades cirúrgicas variadas e tecnologias modernas. “Foram realizados mais de 630 procedimentos clínicos em um único mês. A fila de espera é pequena, e o atendimento é humanizado, com proximidade entre paciente e equipe médica”, explicou. Fábio destacou ainda que a unidade recebe pacientes de Viçosa e região, com perspectiva de fortalecimento da parceria.
O médico radioterapeuta Dr. Henrique Hott explicou a importância da radioterapia, inaugurada em julho de 2021, como pilar fundamental do tratamento oncológico em Ponte Nova. Ele destacou o acelerador linear, equipamento europeu de alta tecnologia que possibilita tratamentos precisos, posicionando o hospital entre os 20% dos serviços SUS com esse nível tecnológico. “Mais de 230 pacientes foram tratados, 95% pelo SUS, sendo cerca de 70 da microrregião de Viçosa”, disse, ressaltando que o tratamento próximo de casa reduz desgaste emocional e financeiro dos pacientes. Ele ressaltou que o fato de os pacientes poderem realizar o tratamento perto de casa — que pode durar entre cinco e 33 sessões — representa um enorme ganho humano e logístico, reduzindo o desgaste emocional e financeiro.
José Bueno de Magalhães, presidente do Conselho do Hospital Arnaldo Gavazza e consultor do HNSD, destacou sua trajetória de 15 anos na área da saúde e relembrou o período crítico enfrentado pelas instituições pontenovenses há oito anos. Convidado pelo Ministério Público, ele participou ativamente do processo de reestruturação dos hospitais de Ponte Nova, que hoje, segundo ele, se encontram financeiramente saneados, com fornecedores pagos antecipadamente, ausência de dívidas tributárias e investimentos constantes em infraestrutura. Ele citou que o hospital se tornou sustentável graças à união entre a gestão e o corpo clínico, com foco em não deixar faltar medicamentos, manter os equipamentos em bom estado e garantir condições adequadas de trabalho para os profissionais da saúde.
Entre os avanços, Bueno anunciou um investimento de aproximadamente R$ 15 milhões em novos equipamentos, como ressonância magnética, medicina nuclear, tomografia e aparelhos para o bloco cirúrgico, que atenderão tanto o Hospital Nossa Senhora das Dores quanto o Hospital Arnaldo Gavazza, com os quais há parceria, especialmente no atendimento oncológico.
José enfatizou ainda que o tratamento de saúde próximo à residência do paciente é fundamental para o sucesso terapêutico e para o bem-estar do usuário do SUS. Segundo ele, “a melhor coisa é você fazer um tratamento e dormir no seu próprio travesseiro”. Por fim, reafirmou o compromisso de manter o diálogo com Viçosa, cidade com a qual diz ter laços importantes, e colocou-se à disposição para colaborar com as demandas da região.
O vereador DJ Ronny questionou os representantes sobre a possibilidade de implantação de um braço oncológico em Viçosa e sobre a logística enfrentada atualmente pelos pacientes que se deslocam até Ponte Nova para receber tratamento. Em resposta, José Bueno afirmou que há tratativas em andamento para a implantação do serviço de quimioterapia em Viçosa, mais especificamente no Hospital São Sebastião. Segundo ele, na semana anterior à audiência, foi realizada uma reunião com lideranças políticas que poderiam contribuir para viabilizar a iniciativa. “Estamos trabalhando para trazer esse braço oncológico para Viçosa. Já existe uma estrutura adequada no Hospital São Sebastião e agora precisamos seguir os trâmites legais para credenciar o serviço” afirmou José Bueno.
A proposta é que Viçosa receba o atendimento de quimioterapia, após o diagnóstico realizado em Ponte Nova. A porta de entrada para o serviço continuará sendo o Hospital Nossa Senhora das Dores, onde serão feitas as consultas iniciais, exames e cirurgias oncológicas. Caso haja indicação de quimioterapia, o paciente poderá ser tratado em Viçosa, o que deve representar um avanço importante na qualidade de vida dos pacientes da cidade.
O secretário municipal de Saúde de Viçosa, Marcos Alexandre, explicou ao vereador DJ Ronny como funciona atualmente o fluxo dos pacientes oncológicos. Após o diagnóstico, o paciente é encaminhado pelo setor de Tratamento Fora de Domicílio (TFD) para a Secretaria de Saúde de Ponte Nova, onde uma comissão avalia se o tratamento poderá ser realizado no Hospital Nossa Senhora das Dores. Se aprovado, o paciente tem a consulta agendada e é transportado em vans do município. “Temos dois horários de saída. Um grupo vai às 5h da manhã e retorna por volta das 11h. O outro grupo sai às 11h e volta ao final do tratamento. Mas sabemos que, apesar da proximidade, nada substitui o conforto do paciente poder realizar o tratamento em sua própria cidade”, declarou Marcos.
Ele destacou ainda que um dos principais entraves no processo é a burocracia, ainda muito dependente de documentos em papel. Segundo o secretário, essa demora pode prejudicar pacientes que aguardam o início do tratamento. “Hoje, para conseguirmos agendar uma consulta, o processo pode demorar até 10 dias. A informatização do sistema é essencial para agilizar esse trâmite e reduzir o sofrimento de quem já está fragilizado”, defendeu.
José Bueno esclareceu que a informatização depende da Comissão Municipal de Oncologia e da Secretaria Municipal de Saúde de Ponte Nova, mas garantiu que esse tema já está em tratativas para ser solucionado. Além disso, anunciou que Viçosa será beneficiada com a nova ressonância magnética a ser instalada no Hospital Nossa Senhora das Dores em agosto deste ano.
O vereador Marco Cardoso (PRD) reconheceu que Viçosa enfrenta um cenário crítico com seus hospitais sob intervenção e defendeu que a cidade tem muito a aprender com o modelo de gestão de Ponte Nova. Ele pediu que as disputas políticas não interfiram nas decisões sobre o tratamento oncológico e que o foco seja o bem-estar dos pacientes. Também ressaltou que o Estado precisa investir mais na saúde da região, que sofre com precarização dos serviços. Marcão também questionou sobre a existência de uma casa de apoio para os pacientes e acompanhantes.
Em resposta, José Bueno explicou que não há necessidade de uma casa de apoio em Ponte Nova para pacientes oncológicos, devido à curta distância dos municípios atendidos. Segundo ele, a prioridade deve ser melhorar o acolhimento durante o tratamento, como o oferecimento de café da manhã por voluntários, em vez de investir em estruturas que não se justificam pela proximidade dos pacientes com o hospital.
O vereador Sérgio Marota (PP), presidente da Comissão de Saúde da Câmara, cobrou o cumprimento de uma promessa feita em 2023, que previa a realização de tratamentos de oncologia clínica e quimioterapia em Viçosa. José Bueno confirmou que a proposta de trazer esse serviço para Viçosa estava 80% encaminhada, mas sofreu uma interrupção em janeiro de 2024 por conta de um novo entendimento local, que não partiu do Hospital Nossa Senhora das Dores nem do Ministério Público. Segundo Bueno, as conversas foram retomadas recentemente, e há expectativa de que o projeto volte a avançar.
Já a vereadora Maria Prisca (PT) questionou sobre a existência de fila para tratamento oncológico no Hospital Nossa Senhora das Dores e se a estrutura da unidade comportaria toda a demanda de Viçosa e região. Ela também sugeriu a possibilidade de Viçosa buscar o credenciamento completo para oferecer todos os serviços oncológicos, considerando a relevância da cidade como polo universitário e sede de curso de Medicina.
Em resposta, José Bueno afirmou que não há fila para tratamento oncológico, mas sim um agendamento dentro do prazo estipulado pelo Ministério da Saúde. Segundo ele, no mês anterior, todos os pacientes iniciaram tratamento em até 27 dias após o diagnóstico. Ele destacou que a estrutura do hospital comporta os atendimentos da microrregião de Viçosa e Ponte Nova, que somam cerca de 350 mil habitantes, mas não seria possível absorver demandas de outras microrregiões, como a de Manhuaçu. Sobre o credenciamento de um novo serviço em Viçosa, Bueno explicou que não há possibilidade no momento, devido à necessidade de uma população mínima para viabilizar economicamente uma equipe completa de oncologia. Porém, admitiu que esse cenário pode mudar no futuro.
A vereadora Marly Coelho (PRD) também destacou a importância do credenciamento do serviço de quimioterapia em Viçosa para garantir mais conforto e qualidade de vida aos pacientes. Ela perguntou qual o prazo real para o início do atendimento, considerando que foi mencionado um possível início em agosto, mas sem confirmação definitiva. Em resposta, José Bueno explicou que o credenciamento deve ocorrer em cerca de seis meses, devido aos trâmites necessários junto às Comissões Intergestoras Bipartite (CIB) micro, macro e estadual. O serviço será um braço do Hospital Nossa Senhora das Dores, que será responsável técnico pela equipe e faturamento.
Informações: Câmara Municipal de Viçosa