Zé do Pedal cruza África em busca de acessibilidade
29 de outubro de 2019

Cobrindo uma distância de 13 mil quilômetros, desde Jagersrust –Kwazulu Natal, no Sul da África, a Alexandria, no Egito (Norte da África), o ativista social José Geraldo de Souza Castro, 62 anos, membro do Lions Club de Viçosa - MG, inicia um novo projeto no início de novembro próximo. Empurrando uma cadeira de rodas, ele sairá de Jagersrust, uma pequena vila nas montanhas na província de Kwazulu –Natal, na África do Sul, cruzando 12 países da África: África do Sul, Lesoto, Suazilândia, Moçambique, Zimbábue, Zâmbia, Malawi, Tanzânia, Quênia, Etiópia, Sudam, e Egito, exatamente na cidade de Alexandria. Ele calcula que dará mais de 17 milhões de passos durante o percurso, quando anotará as barreiras que a pessoa com deficiência encontra no seu dia a dia.

Trata-se do Projeto “Walking Africa - A World for Them” (Caminhando pela África - um mundo para eles), que tem como objetivo chamar a atenção para um dos principais problemas que afetam as pessoas com deficiência em todo o mundo - as barreiras arquitetônicas – e conscientizar as pessoas a terem mais respeito com as pessoas com deficiência. Para José, só mesmo eliminando as barreiras arquitetônicas e sociais que dificultam a participação ativa das pessoas com deficiência em todos os aspectos da vida social, o mundo será mais justo e humano.

Dividido em sete etapas, o projeto será focado principalmente em ministrar palestras nas escolas das comunidades visitadas para atrair a atenção das crianças acerca dos principais problemas que afetam as pessoas com deficiência: “As pessoas com deficiência não querem piedade, mas igualdade, dignidade e respeito”, afirma o Zé. Durante as visitas, serão entregues cópias digitais da “Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência”.

Dentre as metas que o ativista procura alcançar constam combater os estereótipos, os prejuízos e as práticas nocivas a respeito das pessoas com deficiência, incluídas as que se baseiam no gênero (bullyng); promover a tomada de consciência a respeito da capacidade das pessoas deficientes em relação com o mercado e o lugar de trabalho; estimular os líderes dos municípios visitados a promoverem programas de sensibilização sobre as condições das pessoas com deficiências e os seus direitos; incentivar os governos locais a promover programas de conscientização sobre as condições das pessoas com deficiência e seus direitos; aumentar a conscientização sobre o respeito pelas pessoas com incapacidade física; promover em todos os níveis do sistema educacional o respeito ao direito das pessoas com deficiência; e incentivar a sociedade a refletir sobre a realidade das pessoas com deficiência, contribuindo assim para a redução do estigma, discriminação e marginalização das pessoas com algum tipo de deficiência.

A sugestão de padrões técnicos, com o objetivo de remover barreiras do planejamento urbano e arquitetônico de prédios públicos e privados, instalações coletivas (banheiros, caixas eletrônicos, etc.) e vias públicas, também consta no projeto. José lembra que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), existem 500 milhões de pessoas com deficiência em todo o mundo - um décimo da raça humana - e 80% das pessoas com deficiência vivem em países em desenvolvimento. O ativista divulgará também o projeto da Special Olympics (Olimpíadas Especiais).

Com foco na Pessoa com Deficiência Intelectual, a Special Olympics baseia-se na crença de que pessoas com deficiência intelectual podem, com instruções e incentivos adequados, aprender, aproveitar e se beneficiar da participação em esportes individuais e em equipe. A Special Olympics também acredita que, através de milhões de atos individuais de inclusão, onde pessoas com e sem deficiência intelectual são reunidas, mitos antigos são dissipados, atitudes negativas mudadas e novas oportunidades para abraçar e celebrar pessoas com deficiência intelectual são criadas, inspirando pessoas de todo o mundo a abrir suas mentes para aceitar as pessoas com deficiência intelectual.

Esta é a segunda passagem de Zé do Pedal pela África. Entre 10 de maio de 2008 e 5 de junho de 2010, ele realizou sua primeira viagem transcontinental em um kart a pedal, passando por 23 países da Europa e África em direção à Copa do Mundo de futebol "África do Sul 2010". O objetivo daquela viagem foi o de chamar a atenção da comunidade internacional para a campanha mundial do Lions Club International, "sigth first", de combate à catarata e glaucoma.

Um pouco do Zé do Pedal

Fotógrafo, técnico em turismo, ativista social, ambientalista e ciclista, o mineiro de Guaraciaba e cidadão honorário de Viçosa, também em Minas Gerais, a história de José Geraldo de Souza Castro, o Zé do Pedal, começa em novembro de 1981, quando decidiu viajar do Brasil à Espanha, de bicicleta, para assistir à copa do mundo de futebol “Espanha ‘82”, onde a seleção brasileira não teve muita sorte. De volta ao Brasil, foi imaginando uma volta ao mundo em bicicleta. Imaginou e cumpriu. A partir daí, não parou mais. De lá até o momento, visitou 78 países em cinco continentes; percorreu 145 mil quilômetros à “base de pedaladas”; assistiu a três copas do mundo de futebol; passou por quatro guerras civis; enfrentou chuvas torrenciais, terremotos e sobreviveu a cinco furacões; venceu uma maratona em Lima, no Peru; conheceu ilhas paradisíacas e vivenciou os sofrimentos de crianças e adultos em campos de refugiados da guerra do Vietnam; conheceu a seca, a fome e a miséria dos povos da África e do povo nordestino do Brasil. Em contrapartida, conheceu lugares que marcaram a história, como as Torres Gêmeas, Pirâmides do Egito, Parthenon de Atenas, Torre Eiffel, Taj Mahal, a ponte sobre o Rio Kwai-Ai, Torre de Pisa e tantos outros. Enfim, suas viagens foram grandes aulas de Geografia, História e, principalmente, uma aula de vida.

Cronologia

- De bicicleta até a Copa do Mundo (1981/1982) - Saindo do Rio de Janeiro, ele atravessou a América do Sul, Central e do Norte, voou até a Inglaterra e foi pedalando pela Europa até a Espanha. Minutos antes da chegada dos jogadores para a Copa de 1982, chegou de bicicleta em frente à concentração da seleção brasileira. Este fato chamou a atenção de jornalistas do mundo inteiro, fazendo-o ganhar notoriedade no Brasil. Foi neste momento que ele recebeu o apelido de Zé do Pedal.

- Volta ao mundo de bicicleta (1983/1986) - Logo que retornou da Espanha, decidiu dar a volta ao mundo de bicicleta. Nesta viagem, divulgou uma campanha de Combate ao Câncer nos 54 países pelos quais pedalou. O fim da aventura se deu no México, onde novamente assistiu a uma copa do mundo de futebol.

Japão em um velocípede (1985) - Durante a “Volta ao Mundo”, cruzou o País do Sol Nascente em um velocípede infantil, enquanto chamava a atenção da mídia para a condição das crianças na Etiópia.

- De Chuí a Brasília em um velocípede (1987) - Após conhecer o mundo, Zé decidiu viajar pelo Brasil. Optou, novamente, pelo velocípede, e cruzou o Brasil para chamar a atenção dos parlamentares constituintes para as condições sub-humanas das crianças do nordeste.

- América do Sul em uma motocicleta (1996) - Em uma motocicleta, percorreu 8 países da América do Sul: Equador, Peru, Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai e Bolívia. A viagem foi uma comemoração do seu vice-campeonato de motociclismo no Equador.

- Pedalando no Velho Chico (2002) - Viajou por todo o Rio São Francisco, em um barco tipo pedalinho, de Três Marias (MG) até o Pontal do Peba (AL). Nesta viagem, procurou chamar a atenção do país para a poluição do Rio São Francisco.

- Da Liberdade ao Cristo (2004/2005) - Saindo da estátua da liberdade, em Nova Iorque, Zé tinha o objetivo de chegar ao Rio de Janeiro, percorrendo a costa litorânea das Américas em um barco a pedal. Nesta aventura, buscava alertar a comunidade internacional para a poluição das águas do planeta. Entretanto, na cidade de Dzilam de Bravo, no México, 18 meses depois da partida, sua embarcação sofreu danos irreparáveis ao enfrentar o furacão Rita, impedindo o término da viagem. Pedalou cerca de 10 mil dos 23 mil quilômetros programados.

- Zé do Pedal 50 anos (2007) - Na comemoração de seus 50 anos, construiu uma embarcação a pedal feita com garrafas pet, um quadro de bicicleta encontrado em um lixão e algumas barras de aço. Com ela, realizou uma inusitada travessia da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, para chamar a atenção para a poluição das águas e a importância do Protocolo de Kyoto.

- Extreme World (2008/2010) - Em um kart a pedal, viajou da França até a África do Sul. Nesta aventura, de cerca de 17 mil quilômetros, divulgou uma campanha internacional de combate ao Glaucoma e à Catarata em países pobres.

- 2014 “Extremas Fronteiras, Barreiras Extremas” - Cruzada pela Acessibilidade – Uma caminhada, de 10.700 km, dando 15 milhões de passos, empurrando uma cadeira de rodas, de Uiramutã, (RR) fronteira norte com a Venezuela, até Chui (RS). Visitando 327 cidades de 20 estados, visando conscientizar o povo brasileiro sobre um dos principais problemas que afetam as pessoas com deficiência: as barreiras arquitetônicas.

Saiba mais: www.zedopedal.com.br

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