Coluni aprova cotas raciais em processo seletivo
6 de outubro de 2020

A unidade, que se tornou a melhor escola pública do País após desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), é vinculada à Universidade Federal de Viçosa (UFV).

A decisão partiu após pressão estudantil do Coletivo Coluni Antirracista, formado em julho deste ano após a onda de protestos impulsionada pela morte de George Floyd, nos Estados Unidos, e, no Brasil, pelo assassinato pela polícia do jovem João Pedro Mattos, de 14 anos, e pelo óbito do menino Miguel Silva, de 5 anos, que caiu do 9º andar de um prédio enquanto estava sob os cuidados de Sari Corte Real, patroa da mãe da criança.

Atualmente, para ingresso no primeiro ano do ensino médio, há um processo seletivo acirrado e que conta apenas com um bônus de 20% de aumento na nota para alunos que cursaram todo o ensino fundamental em colégios públicos. A concorrência chega a 14 alunos por vaga.

Em carta aberta, o coletivo antirracista argumentou que as medidas não eram eficientes para promover maior igualdade racial dentro do colégio, e que o exame de seleção se configurava como principal obstáculo para jovens negros e indígenas.

“O exame de seleção é justamente o primeiro obstáculo para o acesso de pessoas indígenas e negras ao colégio: por não se tratar de uma instituição federal de ensino técnico de nível médio, não há obrigatoriedade legal de criar cotas de cunho racial. […] Acreditamos que há um dever ético por parte da instituição de criar mecanismos para entrada e permanência de estudantes negros e indígenas, incluindo a adoção de um sistema de ações afirmativas sólido que aumente a representatividade desses estudantes entre o corpo discente”, escreveram.

 

Gabriel Andrade, ex-aluno do CAP-Coluni, graduando em Direito pela UFV e integrante do coletivo, diz que o debate sobre maior representatividade dentro do colégio é antigo, e que se ampara, também, em como ex-alunos do colégio chegaram a fraudar cotas raciais para ingressar na UFV.

“Nós identificamos três grandes pontos de problemas em relação à abordagem que o colégio tem quanto a raça: o primeiro é o próprio exame de seleção, algumas atitudes racistas que os membros negros do coletivo trouxeram para a gente, e o terceiro grande problema é a questão das fraudes em processos seletivos para ensino superior. Muitos alunos do Coluni falseavam a declaração quando era somente por autodeclaração.”, afirma.

Na reunião do colegiado, formado por todos os professores, representantes discentes e membros do conselho administrativo do colégio, houve três abstenções de votos. Os 27 restantes foram unânimes em aprovar as cotas raciais. A maioria decidiu aplicar a reserva de vagas a partir do processo seletivo de 2021 (para ingresso em 2022).

Com a aprovação, o colegiado deverá discutir, agora, a criação de uma comissão responsável por analisar a implementação das cotas no processo seletivo.

Em entrevista a CartaCapital, o professor de física e atual diretor do CAP-Coluni, Isnard Ferraz, afirmou que ainda há um longo caminho de consolidação do novo processo seletivo com a aplicação das cotas, mas que “o primeiro passo já foi dado”.

Ferraz destacou que um manifesto assinado por 60 entidades diferentes de movimentos negros e estudantis deu coro para a demanda discente junto ao colegiado.

No fim do processo, caberá ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFV aprovar as normas técnicas apresentadas pelo colégio.

Somente então é que será possível saber qual a porcentagem de vagas que será reservada para ações afirmativas. Por ser um colégio federal, Isnard Ferraz afirma que, já que a Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012) estabelece uma reserva de 50% das vagas, esse será o parâmetro a ser seguido pelo Coluni.

Fonte: Carta Capital.

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