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Juiz de Fora tem o pior cenário da pandemia em Minas Gerais
18 de maio de 2020

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A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) vem trabalhando para adequar as medidas restritivas de combate à pandemia da Covid-19 aos protocolos definidos pelo Governo de Minas Gerais no âmbito do programa Minas Consciente. A expectativa é de que um decreto neste sentido seja publicado até o fim desta semana. A baliza estadual serve para definir políticas para a flexibilização ou não das autorizações ou restrições para o funcionamento de atividades diversas do setor produtivo, em especial de segmentos comerciais e de prestadores de serviço. Desta maneira, o município pode ser o principal teste do regramento definido pelo Estado, uma vez que Juiz de Fora apresenta o maior número de casos confirmados e de óbitos a cada cem mil habitantes entre as 20 maiores cidades de Minas Gerais.

Em levantamento feito pela reportagem com base nos números da Secretaria de Estado de Saúde (SES), em boletim divulgado na última terça-feira, dia 12, Juiz de Fora possuía 326 casos confirmados de contaminação por coronavírus. Com uma população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) de 568.873 pessoas, com base em estimativas divulgadas em 2019, isto corresponderia a 57,31 casos confirmados a cada bloco de cem mil habitantes. O indicador supera, por exemplo, o de Belo Horizonte que, também até terça, computava 966 confirmações de infecções pelo coronavírus. Com 2.512.070 habitantes de acordo com o IBGE, a capital do Estado tinha, no recorte, 38,45 casos a cada cem mil habitantes.

Na esteira de Juiz de Fora, outra cidade mineira com maior número de casos proporcionalmente, em comparação com a capital Belo Horizonte, é Divinópolis. O município tem 45,75 confirmações a cada cem mil habitantes. A cidade somava, até esta terça, 109 casos confirmados, e tem uma população de 238.230 moradores de acordo com o IBGE. Também apresentam um indicador acima de 30 casos a cada bloco de cem mil habitantes Pouso Alegre (36,49) e Uberlândia (35,15).

Óbitos
Cenário bastante similar é visto quando se avalia a relação entre o número de óbitos e a população nas 20 maiores cidades de Minas Gerais. Uma vez mais, Juiz de Fora encabeça os números, com o registro de 2,46 mortes confirmadas por Covid-19 a cada bloco de cem mil habitantes. Isto porque, até esta terça-feira, a Secretaria de Estado de Saúde apontava que a cidade possuía 14 óbitos por conta da doença provocada pelo coronavírus. Novamente, o indicador é superior ao observado em Belo Horizonte. Com 26 vítimas fatais registradas, a capital tem 1,04 óbitos a cada cem mil habitantes.

Também com indicadores superiores ao da capital na relação entre o número de óbitos e a cada bloco de cem mil habitantes, aparecem Pouso Alegre, com 1,99 mortes a cada centena de milhares de pessoas; Poços de Caldas, 1,79; Uberlândia, 1,59; Barbacena, 1,46; Uberaba, 1,2; e Governador Valadares, 1,07.

Dados municipais revelam taxa ainda maior

O cenário da cidade fica ainda mais preocupante quando o recorte leva em consideração os números divulgados pela Secretaria Municipal da Saúde, que divergem para mais em relação aos dados computados pelo Estado. Assim, de acordo com boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) na última terça-feira, o município já acumulava 392 casos confirmados e 21 óbitos causados pela Covid-19. Portanto, o número de casos a cada bloco de cem mil habitantes chegaria a quase 69 incidências. Com relação aos óbitos, a proporção chegaria a 3,7 mortes a cada cem mil habitantes.

Em comparação com outras cidades de porte similar da Região Sudeste, com população entre 400 mil e 700 mil habitantes, Juiz de Fora teria, todavia, um cenário “menos complicado”. Isto porque municípios de São Paulo e Rio de Janeiro, estados que estão entre os principais epicentros da pandemia no Brasil, têm indicadores mais impactantes. O maior indicador, todavia, vem do Espírito Santo. Em Vila Velha, o número de casos por bloco de cem mil habitantes chega a quase 230. Com 493.838 moradores, a cidade já computa 1.134 confirmações de infecções pelo coronavírus. Ao todo, são 33 mortes: 6,7 a cada universo de cem mil habitantes.

No litoral paulista, Santos tem 433.311 habitantes e 893 casos, o que corresponde a mais de 206 confirmações a cada bloco de cem mil habitantes. O município já computou 62 mortes. Também registram altos indicadores, acima de cem a cada universo de cem mil habitantes, as cidade de Serra, no Espírito Santo, com 194 casos confirmados a cada bloco de cem mil habitantes; Osasco, em São Paulo, com 164; e Niterói, no Rio de Janeiro, com 152 confirmações por centena de milhares de pessoas.

Na sequência, com uma população de 423.884 pessoas e 423 confirmados, segundo boletim da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, Diadema tem praticamente cem casos confirmados e 7,31 óbitos a cada a cada cem mil habitantes. Cenário bastante similar é observado também na cidade paulista de Mogi das Cruzes, que tem 92,63 casos confirmados e 6,28 óbitos a cada bloco de cem mil habitantes; e de São João de Meriti, no Rio de Janeiro, com 87.21 confirmações e 8,04 mortes também a cada universo de cem mil pessoas.

Com 70 casos por cem mil habitantes, Mauá, em São Paulo, tem uma proporção de diagnósticos bastante similar ao de Juiz de Fora, quando levados em consideração os números da PJF. Têm indicadores mais baixos que os juiz-foranos cidades como Belford Roxo (RJ), Montes Claros (MG), Betim (MG), Jundiaí (SP), Ribeirão Preto (SP), São José do Rio Preto (SP), Uberlândia (MG), Campos dos Goytacazes (RJ) e Sorocaba (SP).

Âmbito nacional

Quando considerados municípios de outras regiões com população entre 500 mil e 700 mil habitantes, Aracaju (SE) tem o cenário mais grave do recorte. Com uma população de 657.013 pessoas, a cidade computava 1.413 casos confirmados na última terça-feira, o que representa 215 incidências a cada cem mil habitantes. Com relação aos óbitos, todavia, o cenário era mais favorável que o observado em Juiz de Fora, uma vez que a capital sergipana computava 12 mortes: 1,98 a cada centena de milhares de habitantes.

Com uma proporção de casos em relação a sua população maior que a observada em Juiz de Fora, apareciam ainda Porto Velho, capital de Rondônia, com 209 casos confirmados e 6,8 mortes a cada bloco de cem mil habitantes; e Ananindeua, no Pará, com 163 confirmações de contaminações pelo coronavírus e 15,45 mortes pela Covid-19 por universo de cem mil pessoas. Cidades como Joinville (SC), Cuiabá (MT), Londrina (PR), Feira de Santana (BA), Caxias do Sul (RS) e Aparecida de Goiânia (GO) apresentavam indicadores na relação entre a doença e sua população melhores que os verificados no cenário juiz-forano da última terça-feira.

Os dados foram retirados das secretarias de estado com base em boletins publicados na última terça-feira, dia 12 de maio. Em alguns casos foram utilizados também informações de prefeituras e da imprensa regional. No caso das cidades de São Paulo, no último dia 12, o boletim epidemiológico disponível no site da Secretaria de Estado de Saúde datava do dia 8 de maio.

Região é a segunda com o maior número de casos e a terceira em óbitos

Uma vez mais levando-se em consideração os dados disponibilizados pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, a Região Mata, polarizada por Juiz de Fora, é a segunda com o maior número absoluto de casos confirmados de contaminação pelo coronavírus e já soma 493 casos, ficando atrás apenas da Região Central, que, puxada pelos números de Belo Horizonte, tem 1.446 diagnósticos reconhecidos. Uma vez mais, os dados são referentes ao recorte apresentado na última terça-feira, dia 12. Na sequência, aparecem o Sul de Minas, com 389 casos; o Triângulo, com 351 e o Centro-Oeste, com 205.

Com relação aos números absolutos de óbitos, a Região central também puxa a fila e tinha 43 mortes confirmadas pela Covid-19 até a última terça. Em seguida, a relação trazia o Sul de Minas, com 21 óbitos; a Mata, com 20; o Triângulo, com 19; e o Norte, com sete. Até a última terça-feira, o Governo de Minas Gerais apontava um total de 3.308 casos de coronavírus confirmados em todo o estado e 127 mortes.

Também até terça, a Região Mata computava casos de coronavírus em 43 cidade. Já os óbitos já haviam sido registrados em sete cidades. Além de Juiz de Fora, a Secretaria de Estado de saúde aponta o registro de uma morte em Muriaé, Santos Dumont, Cataguases, Manhuaçu, Belmiro Braga e São João Nepomuceno.

PJF ressalta que município tem maior capacidade de diagnósticos

Instada pela reportagem, a Prefeitura avaliou o levantamento feito pela Tribuna, que coloca Juiz de Fora com a maior incidência de casos a cada cem mil habitantes entre as principais cidade de Minas Gerais. Secretário-adjunto municipal de Saúde, Clorivaldo Rocha destaca que a cidade possui um diferencial muito importante em relação às demais localidades alvo do recorte feito pelo jornal. Neste sentido, ele cita convênio firmado entre a PJF e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o que permite ao Município uma maior capacidade de diagnósticos.

Segundo a PJF, até esta terça-feira, a UFJF já havia enviado à Secretaria de Saúde 306 resultados de exames sobre confirmação ou descarte de casos de coronavírus, dados que passaram a constar em boletins epidemiológicos do Município a partir de 30 de abril. Segundo Clorivaldo, esta maior capacidade de diagnóstico faz com que Juiz de Fora tenha um retrato mais fidedigno do avanço da pandemia, diferentemente dos outros municípios mineiros, que, em sua maioria, concentram seus exames e suas confirmações em análises feitas pela Fundação Ezequiel Dias (Funed).

“Não é que Juiz de Fora seja o centro da pandemia no estado. Temos uma capacidade de testagem maior que outros municípios. Assim, temos um contexto de melhor visualização dos casos”, pontua Clorivaldo. Para exemplificar tal situação, o secretário-adjunto cita o fato de outros municípios terem vários casos de óbitos suspeitos aguardando testagem. Nesta quarta, a fila de mortes sob suspeição de terem sido provocadas pela Covid-19 e cujas análises estavam pendentes em todo o estado somavam 118 casos. “Em Juiz de Fora, temos conseguido obter resultados em 12 horas. Na terça, por exemplo, tínhamos apenas uma morte em investigação”, reforça.

Clorivaldo destaca ainda que a Prefeitura de Juiz de Fora tem atuado em diversas frentes de forma a afastar a possibilidade de um colapso da rede de saúde, maior temor provocado pela pandemia. Tal situação já atingiu cidades de outros países e, até mesmo, no Brasil, como a capital do Amazonas, Manaus. O “colapso” ocorre quando a rede de saúde de uma localidade se mostra incapaz de suprir toda a demanda por atendimento provocada pela doença. “Em Juiz de Fora, todos os casos graves foram 100% internados. Todos os óbitos foram no ambiente hospitalar. Ninguém morreu em casa”, afirma o secretário-adjunto.

Secretário-adjunto destaca que população é parceira

Clorivaldo afirma ainda que a cidade vem se preparando para o pico de contaminação. Entre as ações destacadas pelo secretário-adjunto estão o fomento ao isolamento social e a ampliação de leitos de terapia intensiva, com, inclusive, conversas com a rede privada de saúde da cidade. Temos uma estrutura dinâmica e temos que estar preparados para o pico”. Ele evitou fazer previsões sobre quando ocorreria tal pico, mas citou que alguns modelos matemáticos apontam que ele poderia incidir em junho.

“Por isto, é importante a sociedade se corresponsabilizar e redobrar cuidados, como o uso de máscaras, manter as mãos limpas e sair de suas casas apenas em situações estritamente necessárias”. O secretário adjunto justifica a preocupação lembrando que o número de casos suspeitos na cidade cresceu significativamente no período de um mês, passando de 1.124 em 10 de abril para 2.921 em 10 de maio. Cabe destacar ainda que, nas últimas semanas, a ocupação de leitos públicos de terapia intensiva na cidade chegou a 84% da capacidade da rede. “Entre os casos locais, temos uma taxa de letalidade de cerca de 5,5% que está próxima da média mundial.”

Por fim, a Prefeitura ressalta que, apesar do reforço proporcionado pelo convênio com a UFJF, nem todos os casos suspeitos podem ser testados. Assim, além dos casos considerados graves, o público-alvo das testagens têm sido profissionais de saúde sintomáticos que atuam na rede SUS; os sintomáticos atendidos na atenção básica que integram grupos de risco (acima de 65 anos, cuidadores de idosos, diabéticos, hipertensos descompensados e obesos); e servidores da segurança pública, Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb) e Companhia de Saneamento Municipal (Cesama).

Fonte: Tribuna de Minas.